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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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NEO-REALISMO, “PÁSCOA <strong>DE</strong> SANGUE”<br />

E FORMALISMO<br />

14.05.54<br />

Cremos compreender porque “Páscoa de sangue” não foi muito bem<br />

recebida pela crítica italiana, tendo mesmo sofrido severas restrições por parte<br />

de alguns críticos, não obstante tratar-se de uma película de muito boa<br />

qualidade. Como é sabido, o neo-realismo, corrente à qual essa fita pretende<br />

pertencer, possui conteúdo ideológico de caráter esquerdista ou socialista,<br />

baseando na realidade do homem em sociedade, na sua poesia e na sua<br />

humanidade, que são apresentadas simplesmente, sem o intuito pragmático de<br />

defender teses, embora se tome uma atitude ante o fato. Giuseppe De Santis, o<br />

realizador do filme, que foi também um dos teóricos dessa corrente<br />

cinematográfica, enquanto era crítico de cinema não esqueceu esses princípios<br />

fundamentais. Seria profundamente injusto negar o caráter realista e social,<br />

tanto na “Páscoa de Sangue”, como de seus filmes anteriores, “Trágica<br />

perseguição” e “Arroz amargo”, nos quais, aliás, ele se preocupa especialmente<br />

em dar ao povo, ou mais particularmente, ao grupo social que toma parte no<br />

drama, um papel preponderante.<br />

Entretanto, se De Santis foi conseqüente com o neo-realismo, sob o<br />

aspecto ideológico, o mesmo não se pode dizer sob o ponto de vista formal. O<br />

neo-realismo, é preciso que se compreenda, não tem como base aquele<br />

conteúdo ideológico sobre o qual falávamos acima. Toda a sua individualidade,<br />

ou pelo menos boa parte dela, reside na maneira global e existencial pela qual<br />

essa realidade é tomada, inteiramente condicionada pela sua forma<br />

cinematográfica. Partindo daí o neo-realismo possui um princípio formal, o da<br />

renúncia a qualquer formalismo estilístico, tanto no roteiro, como na montagem<br />

e na interpretação dos atores. Como se pode ver perfeitamente em dois dos<br />

mais autênticos representantes do neo-realismo, Vittorio De Sica e Roberto<br />

Rossellini, a simplicidade narrativa de seus filmes é absoluta, pois tem em vista<br />

a captação da realidade no seu todo, em toda a amplitude do fenômeno, sem<br />

particularizações de espécie alguma.<br />

Como se pode ver, portanto, o neo-realismo puro, ou se quiserem, o neorealismo<br />

fenomenológico, está comprometido com a filosofia existencial,<br />

voluntária ou involuntariamente, sendo isto o que o distingue essencialmente<br />

do realismo francês poético, psicológico ou verista e do realismo norteamericano<br />

róseo ou neo-documentarista.

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