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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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ROSSELLINI E A <strong>CRÍTICA</strong><br />

14.08.54<br />

Curiosas declarações fez Roberto Rossellini ao semanário parisiense<br />

“Arte Spetacles”, que as publicou em seu numero de 22 de junho. “Disseram,<br />

escreveram e repetiram”, afirmou o realizador de “Alemanha ano zero”, que eu<br />

descobri uma nova forma de expressão: o neo-realismo. Deve ser verdade, pois<br />

a esse respeito todos os críticos estão de acordo, e nunca se pode ter razão<br />

contra a opinião geral. Mas dificilmente chego a me persuadir. Esse termo<br />

“neo-realismo” nasceu com o sucesso de “Roma, cidade aberta”. Quando o<br />

filme foi apresentado em Cannes, em 1946, passou totalmente despercebido.<br />

Descobriram-no somente muito mais tarde e eu não estou muito certo de que<br />

tenham compreendido minhas intenções. E então batizaram-me de inventor do<br />

neo-realismo, Que significa isso? Não me sinto absolutamente solidário com os<br />

filmes que se fazem na minha terra. Parece-me evidente que cada qual tem o<br />

seu próprio realismo e que cada um julga que o seu é o melhor. O meu neorealismo<br />

não é outra coisa a não ser uma posição moral que se resume em três<br />

palavras: “amor ao próximo”.<br />

Rossellini disse ainda que, entre todos os filmes que realizou, prefere<br />

“Stromboli”. Negou, além disso, a lenda que pretende fazer dele um<br />

improvisador impenitente e explicou que a realidade é muito mais simples.<br />

“Acontece que amiúde eu tenho claramente na cabeça o desenvolvimento das<br />

cenas e que, portanto, não necessito escrevê-las. O mais importante para mim,<br />

num filme, é o ritmo. E como eu tenho na devida conta o ambiente em que se<br />

filma, o qual traz sempre idéias novas, minha única improvisação no trabalho<br />

dirige-se no sentido de um ritmo melhor apropriado para manter um estado de<br />

tensão, que deve conduzir ao desenlace, que desejo impressionante e brutal.<br />

Rossellini concluiu afirmando que desejava levar para a tela os<br />

“Dialogues des Carmelites”, que Bernamos escreveu especialmente para o<br />

cinema, mas que provavelmente deverá renunciar a essa realização diante da<br />

impossibilidade prática de solver o problema dos direitos autorais, o que é<br />

verdadeiramente lamentável.

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