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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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O T<strong>EM</strong>A FUNDAMENTAL<br />

13.06.54<br />

“A um passo da eternidade” é um filme corajoso. Se se tratasse de uma<br />

película européia, ou de qualquer outra procedência, não diríamos isso, pois<br />

nada haveria de excepcionai no fato. Mas estamos diante de um filme do<br />

cinema norte-americano, cuja produção é dominada, pelo convencionalismo,<br />

pela censura prévia e por uma série de preconceitos burgueses e puritanos,<br />

quando não influenciados por interesses claramente políticos. E esse filme<br />

escapa de quase tudo isso; é humano, real, trata os fatos sem rodeios, cria<br />

personagens cheios de defeitos, de limitações, de erros. E acima de tudo isto, é<br />

extraordinariamente belo.<br />

Entretanto, sem negar essas qualidades, algumas pessoas viram no filme<br />

de Fred Zinneman uma falha que nos parece inexistente. Acusaram a película<br />

de falta de unidade. E de fato, se a examinarmos mecanicamente,<br />

superficialmente, verificaremos que o filme contém três histórias paralelas, que<br />

em alguns momentos se entrecruzaram. Entretanto, fazendo uma análise mais<br />

profunda, notaremos que entre os dramas do soldado Prewitt, do sargento<br />

Warren e do soldado Maggio, há um fator comum o domínio e a obsessão do<br />

exército. Não pense, porém, o leitor, que dizemos isso apenas, porque a história<br />

se passa em um quartel do exercito norte-americano, ou porque seus principais<br />

personagens pertencem a esse exército. Isto nunca daria unidade a um filme. O<br />

que há em “A um passo da eternidade” é uma estranha e angustiada<br />

supervalorização, quase deificação mesmo do exército, não obstante, as críticas<br />

que o próprio filme lhe faz. Este é claramente o fundamento de “From here to<br />

eternity” O exército podo ser bom e ser mau, pode dar tudo aos seus homens e<br />

ao mesmo tempo e principalmente sacrificá-los, e até matá-los, como acontece<br />

a Prewitt e a Maggio. Todos os problemas dos três personagens masculinos<br />

principais decorrem do choque do seu interesse particular com o do exército.<br />

Mas isto não impede que eles, de um certo modo, fatalisticamente, sejam<br />

gratos, amém e permaneçam no exército. E é isto que dá unidade ao filme. Fred<br />

Zinneman e Daniel Taradash compreenderam-no muito bem. Todavia não<br />

sabemos explicar exatamente o porque desta atitude, deste amor irracional pelo<br />

exército, que o soldado Prewitt definiu muito bem no final do filme. Talvez<br />

seja o indício da necessidade, que muitos homens sentem, de substituir o Deus<br />

verdadeiro, por eles esquecido, por um outro deus de última hora. Mas talvez<br />

também se explique por aquela frase do sargento Warren, afirmando que agora<br />

não se faz mais as coisas individualmente, como no tempo dos pioneiros, mas<br />

em conjunto. E então entraríamos em um dos problemas mais sérios do mundo<br />

moderno.

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