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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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POESIA E REALIDA<strong>DE</strong><br />

09.07.54<br />

Vittorio De Sica, secundado por Cesare Zavattini, conseguiu, em<br />

“Umberto D”, atingir um ideal poucas vezes, senão jamais logrado pelos<br />

cineastas de todo o mundo, ou seja, reunir em uma obra só a realidade cotidiana<br />

e a poesia, que é própria das grandes obras de arte. Esta foi a sua grande<br />

conquista. Seu filme encantou-nos, por ser profundamente simples, humano e<br />

poético no seu mais alto grau. Principalmente na extensa seqüência final, com o<br />

auxílio da música insistente de Cicognini, De Síca. logrou criar momentos<br />

únicos de delicadeza, de simplicidade de beleza, iluminados por aquele “quid”<br />

indefinível, cujo segredo só possuem o verdadeiros artistas. E isto ele<br />

conseguiu tendo como matéria apenas a realidade vulgar de todos os dias da<br />

vida de um velho funcionário público aposentado. Se ele tivesse como objeto<br />

um assunto fantástico, uma grande história de amor, um drama de grandes<br />

proporções, ou algo semelhante, ainda não seria tão extraordinário. Mas nas<br />

circunstâncias em que foi realizada a película, ela é inteiramente excepcional é<br />

a comprovação cabal de que a arte, ou melhor, o belo, é o simples brilho da<br />

forma na matéria.<br />

De Sica e Zavattini nada tinham para contar em “Umberto D”. O<br />

personagem interpretado pelo professor “Battistti”, o velho funcionário público<br />

aposentado, sem família e sem amigos cuja aposentadoria não dá para ele viver,<br />

nada tem em sua vida de excepcional para ser contada. Ele é um anônimo. Ele<br />

se chama Umberto D e como ele devem existir muitos outros velhos neste<br />

mundo. Sua única preocupação na vida é ter um lugar para morar, poder comer<br />

e brincar com sua cadelinha Flaik. Mas a sua senhoria quer tirar-lhe o quarto,<br />

onde ele viveu trinta anos, e transformá-lo em um salão. E ele não tem dinheiro<br />

para pagar o quarto; a venda do relógio ou de dois velhos livros não resolve o<br />

problema; ninguém lhe empresta um centavo; alguns dias ele passa no hospital<br />

público, para não gastar dinheiro em comida; mas tudo é em vão. A senhoria<br />

transformará mesmo seu quarto em um salão, unindo-o ao quarto do lado. Que<br />

fazer então? Suicidar-Se? É a única solução, mas no último momento falta-lhe<br />

coragem.<br />

Na primeira cena do filme, vemos o senhor Umberto tomando parte em<br />

uma passeata de velhos aposentados, que pedem aumento em seus proventos,<br />

mas logo são dispersados pela polícia, que não lhes dera autorização de se<br />

reunirem. O problema do velho e derrotado senhor Umberto portanto, é<br />

eminentemente social; sua figura é simbólica. De Sica, porém, não se atém a<br />

esse problema. Ultrapassa-o em todos os planos. Com seu estilo extremamente

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