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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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MÔNICA E O <strong>DE</strong>SEJO<br />

19.12.54<br />

(“Somaren Med Monika”). Suécia. 53. Direção e roteiro de Ingmar Bergman.<br />

História e colaboração no roteiro de P. Q. Folgestron. Fotografia de Gunnar<br />

Fischer. Música de Erik Nordgren. Elenco: Harriet Anderson e Lars Ekborg. Em<br />

exibição no Jussara.<br />

Cot.: bom Caract.: realismo, poesia e imoralidade<br />

Muito mais do que a simples narração da fuga de dois jovens, que,<br />

abafados pela vida urbana, vão viver juntos nas margens dos lagos suecos,<br />

“Mônica e o desejo” é a história de uma mulher endiabrada, voluntariosa,<br />

violenta, exuberante, de um sensualismo quase que palpável, que aflora de todo<br />

seu corpo, de seus olhos, de cada um de seus movimentos. Mônica, cuja<br />

personalidade foi muito bem traçada por Ingmar Bergman, domina todo o<br />

filme. Há nela a selvageria do animal, que não tem limitações em seus atos, que<br />

ignora a moral, que confunde o amor com o sex e, afinal, só conhece esse<br />

último. O filme não a condena. Conta apenas a sua história, sua fuga para a<br />

vida do campo, ela com 18 anos, ele com 19. O verão, porém, acaba. Eles têm<br />

que voltar para a cidade, casam-se, têm um filho, mas Mônica naturalmente<br />

trocara tudo pelos “dancings” e clubes noturnos, seguindo fatalisticamente a<br />

linha de seu temperamento.<br />

“Mônica e o desejo” é um filme completamente imoral, quase<br />

pornográfico. E se constitui afinal em um documento contra o amor livre, seu<br />

autor está longe de ter querido lhe dar esse sentido. Lamentamos essa atitude de<br />

Ingmar Bergman, que aliás já ficara clara em “Noites de circo”. A verdade,<br />

porém, é que ele, seguindo a linha clássica do cinema sueco, pretendia realizar<br />

apenas um filme realista e poético. E logrou seu intento. Até hoje, aliás, foram<br />

os escandinavos os que melhor conseguiram se expressar poeticamente no<br />

cinema, através do realismo. No começo deste ano ainda tivemos um belíssimo<br />

exemplo disto em “Última felicidade”. O grande tema que sempre lhes<br />

interessa é o amor, que eles levam pára a tela com extraordinária força plástica<br />

e elevação. Foi o que sucedeu também em “Mônica e o desejo”, embora<br />

Ingmar Bergman tenha. exagerado sua tendência erótica e, além disso, haja<br />

incidido em um erro muito comum ao cinema de sua, terra o desequilíbrio da<br />

linha dramática, motivado pela subestimação do roteiro. Por isso, o filme não<br />

possui a unidade e a tensão dramática que seria lícito esperara dele. Tivemos no<br />

entanto, uma película digna de Ingmar Bergman, merecendo ser ainda<br />

salientado o desempenho de Harriet Anderson e a fotografia de Gunnar Fischer.

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