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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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INDIVIDUALISMO E GENERALIZAÇÃO<br />

07.09.54<br />

Há muitos anos o cinema norte-americano não ganha um prêmio em<br />

Veneza ou Cannes; durante uma certa época chegou a estar na moda falar mal<br />

de Hollywood; as críticas eram severas e bem fundadas; nenhuma de suas<br />

mazelas escapou. Por mais que se critique, no entanto, ninguém poderá negar a<br />

Hollywood um lugar privilegiado no cenário cinematográfico mundial. “Mais<br />

forte do que a morte” vem comprovar essa afirmativa. Ao lado de “A um passo<br />

da eternidade” e “Os brutos também amam”, o filme de Anatole Litvak<br />

atualmente em exibição no Marrocos vem se colocar entre as duas melhores<br />

realizações norte-americanas, exibidas em São Paulo em <strong>1954</strong>.<br />

“Mais forte do que a morte” é uma película extraordinária, mas<br />

dificilmente conseguirá êxito de bilheteria. Trata-se de um filme angustiante e<br />

doloroso, de uma história de amor narrada sem nenhum toque de pieguismo ou<br />

mesmo de melodrama (o melodrama pode ser autentico). Litvak não fez<br />

nenhuma concessão ao público; não tinha um roteiro que propiciasse muita<br />

ação e não compensou essa deficiência (deficiência exclusivamente para o<br />

êxito financeiro do filme, é claro), explorando o sentimentalismo dos<br />

espectadores.<br />

Não é por esse motivo, todavia, que “Act of love” é um drama norteamericano<br />

clássico, embora, por ter Paris como ambiente, adquira foros<br />

internacionais. “Mais forte do que a morte” não tem nada do sofisticamente e<br />

do caráter trágico e pessimista do drama francês, nem o caráter realista e social<br />

do drama italiano, nem o simbolismo japonês, nem a frieza britânica, nem a<br />

poesia sueca. Tipicamente norte-americano, ele se distingue pelo<br />

individualismo do drama, que, em nenhum momento, toma um caráter<br />

realmente de generalização. Litvak nos narra exclusivamente a história de um<br />

soldado norte-americano e de uma jovem francesa. Nenhum dos dois se<br />

confunde com os demais; em momento algum Litvak tenta dar ao drama de<br />

ambos um caráter generalizado embora não lhe falte universalidade. E esse<br />

individualismo, que é provavelmente o que melhor caracteriza o cinema norteamericano.<br />

sobrepondo-se a outros caracteres menos essenciais, como a<br />

perfeição técnica, a falta de intelectualismo e o realismo róseo, condicionado<br />

pela censura — esse individualismo não só está presente na fita no próprio<br />

modo de situar as duas personagens principais, como também na grande<br />

mensagem que podemos tirar do seu desfecho. Em mundo que tende cada vez<br />

mais para as soluções sociais, globais, onde a individualidade da pessoa<br />

humana é cada vez mais esquecida, o resultado da atitude daquele capitão,

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