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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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O ALUCINADO<br />

05.12.54<br />

(“El”). México. 53. Direção e roteiro de Luis Bunuel. Col. no roteiro de Luis<br />

Alcoriza. História de Mercedes Pinto. Produção de Oscar Dancigers. fotografia de<br />

Luis Figueiroa. Música de Luis Hernandez Berton. Elenco: Arturo de Cordova,<br />

Della Garvez, Fernando Casanova., Luis Berstein e outros. Produção da Tepeyac<br />

S.A. Distribuição da Columbia. Em exibição no Opera.<br />

Cot.: Bom Caract: Dramático mas algo cansativo<br />

“O alucinado” é a obra mais ambiciosa de Luis Bunuel, dentre as que<br />

vimos, desde que se estabeleceu no México. Embora a história não fosse sua,<br />

trata-se de uma fita pessoal, que Bunuel interpretou à sua maneira. Não cremos,<br />

no entanto, que tenha sido muito mais feliz do que em “As aventuras de<br />

Robinson Crusoé”. Deu-nos um bom filme, mas não conseguiu realizar ainda<br />

uma obra perfeitamente acabada.<br />

A luz de uma análise mais superficial, “El” é a história de um marido<br />

ciumento, que termina por enlouquecer. Na verdade, porém, o drama de<br />

Francisco é muito mais complexo e profundo. Embora possa parecer o<br />

contrário, principalmente em vista do desfecho, com “El”, Bunuel realizou uma<br />

obra de espírito nitidamente anticatólico, baseando-se em um fato concreto.<br />

Francisco é um exemplo típico das deformações que pode produzir em um<br />

homem a compreensão errada do cristianismo. Temos o cristão adotando aquilo<br />

que entra mais radicalmente em contradição com o espírito do Cristo — a<br />

doutrina do super-homem egoísta, que despreza e odeia os seus semelhantes.<br />

Bunuel é frio e impiedoso na apresentação da sua personagem. Em<br />

nenhum momento ele chega a compreender ou desculpar aquele homem, que<br />

nem mesmo a loucura justifica. É esta a primeira causa que deixa o espectador<br />

algo indiferente ao drama. E no final, Bunuel revela ou sugere uma concepção<br />

fatalista do destino daquele homem. E quando o vemos, no convento, depois de<br />

ter visto o filho, afirmar que tinha um pouco de razão nos seus ciúmes, e depois<br />

caminhar lentamente para uma arcada negra, de forma sinuosa... Infelizmente,<br />

nem o sanatório nem o convento haviam logrado reformá-lo.<br />

Mas se assim compreendemos melhor o filme, não é aí, mas na sua<br />

realização formal que vamos encontrar a causa pela qual “O alucinado” não se<br />

realizou completamente. Luís Bunuel nos apresenta personagens humanas,<br />

vivendo um drama autêntico. Sua direção é segura e firme. Entretanto não foi<br />

muito feliz na criação do roteiro. Deixando indiferentes os espectadores,<br />

demorou-se excessivamente na apresentação do lento enlouquecer de

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