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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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APELO AO AMOR<br />

11.07.54<br />

Evidentemente não podemos considerar “Umberto D” um filme cristão,<br />

no sentido escrito do termo. Nunca ouvimos falar, aliás, que De Sica ou<br />

Zavattini, possuísse qualquer religião, sendo pelo contrário conhecidas as<br />

tendências nitidamente esquerdistas do primeiro. Entretanto se levarmos em<br />

consideração que toda a base da doutrina cristã repousa na caridade, no amor<br />

ao próximo, então “Umberto D” poderá ser considerado um filme de<br />

fundamento cristão, não obstante a brincadeira maldosa que é feita com a freira<br />

da Santa casa, para onde vai o senhor Umberto.<br />

Como nas outras películas de De Sica, mas com mais intensidade, este<br />

filme constitui um apelo imenso ao amor e á solidariedade humana. Observe,<br />

porém, o leitor, que não falamos aqui em amor, como atração entre o homem e<br />

a mulher ou como colocação de um problema social qualquer o que acontece<br />

logo no início da fita, com aquela passeata de funcionários públicos<br />

aposentados. “Umberto D” ultrapassa muito essa questão. Seu apelo é o da<br />

caridade mesma e no seu mais alto sentido, é o apelo ao amor, à compreensão,<br />

à solidariedade pessoal, particular de cada homem para o seu semelhante. Este<br />

aliás, aliado à escolha de heróis vencidos, indefesos, simples, explorados,<br />

fracos um dos principais pontos de contacto da obra de Chaplin com a de De<br />

Sica. Aquele criou Carlitos, este, o dono da bicicleta roubada, o senhor<br />

Umberto e a empregadinha sua única amiga, as crianças de “Sciuscia”.<br />

E como em Chaplin, mas com mais vigor, De Sica faz esse apelo<br />

partindo de uma constatação trágica: a de que o homem é individualista,<br />

injusto, egoísta, não vendo ninguém a não ser ele próprio. Assim vemos em<br />

“Umberto D”, que só uma pessoa é capaz de ser amiga daquele pobre homem,<br />

aquela pequena criadinha santo ou mais infeliz do que ele. Só ela, indefesa,<br />

simples, ingênua, nada podendo fazer de concreto para auxiliá-lo, só ela se<br />

interessa por ele, ajuda-o, tenta compreendê-lo e fica triste quando ele parte. Os<br />

outros permanecem frios, distantes, impenetráveis, recusando-lhe tudo. E cada<br />

vez que eles se fecham dentro de si, parece que alguém lhes está pedindo que<br />

se abram, cada vez que dizem não, sentimos que eles deveriam ter dito sim.<br />

Entretanto, se a obra de De Sica constitui-se em um apelo ao amor entre<br />

os homens, conseqüentemente ele não pode deixar de amar seus semelhantes.<br />

Desta forma, se ele parte do egoísmo, do individualismo do homem para fazer<br />

seu apelo, isto não o impede de compreender e mostrar também o lado bom<br />

desse homem. E o que vemos, então na sua obra é a total inexistência de

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