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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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O AMOR OUTRA DIMENSÃO<br />

02.11.54<br />

Na análise a esse filme extraordinário — “O selvagem” dissemos antes<br />

algumas breves palavras sobre seu realizador, o produtor Stanley Kramer,<br />

procuramos depois situar o aspecto social do filme, enquanto documentação de<br />

uma mentalidade e de uma situação de fato. Hoje, veremos outro aspecto, que<br />

se refere ao que acontece com os dois protagonistas do filme, cujo drama é ao<br />

mesmo tempo interdependente e paralelo ao contexto de critica social e a que<br />

nos referimos na última crônica.<br />

O amor que surge entre a rapariga da, cidadezinha e Johnny, pondo à luz<br />

toda a complexidade psicológica do caráter de ambos, dá ao filme outra<br />

dimensão, muito mais humana, e dramática. E este aspecto da fita de Stanley<br />

Kramer merece maior atenção. Embora curtas, as relações entre os dois jovens,<br />

os diálogos que travam, o passeio de motocicleta, à noite, suas reações em face<br />

da novidade do amor, que para a jovem adquire dimensões de tragédia ou de<br />

desgraça, pela, sua própria simplicidade, e para Johnny serve como uma<br />

verdadeira redenção, cuja coroação é aquele sorriso final, o único sorriso do<br />

filme, desanuviando aquela alma perdida tudo isso constitui algo de<br />

fundamental na película. E séria por esse caminho, pela via do amor o que há<br />

de mais elevado no homem que Stanley Kramer poderia ter feito um grande<br />

filme. O realizador de “O Invencível”, porém, desconhece o amor. A não ser<br />

quando se dispõe a filmar uma peça, teatral em que o amor é elemento<br />

fundamental, como em “Cyrano de Bergerac” ou “O leito nupcial”, ele evita o<br />

mais possível esse tema. Stanley Kramer é um intelectual moderno; está bem<br />

imbuído do espírito tecnicista, formal, sofisticado, seco, realista que é próprio<br />

dos nossos tempos. E por isso mesmo ele é, antes de tudo, anti-romântico,<br />

fugindo ao que possa lembrar longinquamente o melodrama ou o pieguismo,<br />

como o diabo da cruz. E o resultado disso, naturalmente, não o favorece. Como<br />

aconteceu agora, em “The wild one” de Kramer, sacrifica o amor, ignora que os<br />

grandes artistas, salvo raras exceções, amam e cantam o amor, antes do que<br />

qualquer outra coisa. E assim agindo, nega a sua obra o toque final da obra de<br />

arte, a poesia.<br />

Em “O selvagem”, Stanley Kramer contou com excelente equipe. Filme<br />

de base formal, embora denso de conteúdo humano e social, foi roteirizado<br />

com grande propriedade por John Paxton, magistralmente dirigido por Lazlo<br />

Benedeck, interpretado por um elenco de primeira ordem, onde aparecem em<br />

primeiro plano Marlon Brando, Mary Murphy e Robert Keith, e apresenta<br />

acompanhamento musical á base de jazz e uma fotografia, além de um nível

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