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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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PÁSCOA <strong>DE</strong> SANGUE<br />

15.05.54<br />

(“Non c’é pace tra gli ulivi”). Itália. 51. Direção de Giuseppe De Santis. Roteiro<br />

de G. De Santís, Libero de Liberó, Gíanni Puccini e Carlo Lizzani, História de De<br />

Santis e Puccini. Música de G. Petrassi. Produção de Domenico Forges Davanzati.<br />

Elenco: Raf Vallone, Lucia Bosé, Folco Lulli, Maria Grazia Francia, Dante<br />

Maggio, Michelle Ricardinni e outros. Art. Em exibição no Opera e circuito.<br />

Cot.: Muito bom Gen.: Drama<br />

Em nossa crônica de ontem falamos do choque entre a simplicidade<br />

formal levada ao extremo do neo-realismo fenomenológico e o estilo quase que<br />

gongorico de Giuseppe De Santis. Dissemos então que esse formalismo,<br />

enquanto se constituía em uma falha grave para boa parte da critica italiana,<br />

para nós significava apenas uma limitação, que impede o filme de se realizar<br />

integralmente. Como exemplo disso, podemos citar toda a seqüência final de<br />

“Páscoa de sangue”, a partir do momento em que Francesco recebe o rifle. No<br />

intuito de dar à sua fita toda a força dramática possível, ele força a estrutura do<br />

roteiro, usa de uma montagem exuberante, emprega primeiros planos em<br />

abundancia, joga com todo o poder interpretativo dos atores. No entanto, apesar<br />

do emprego de todos esses recursos, e exatamente por isso mesmo, a seqüência<br />

perde um pouco do seu valor, não convencendo totalmente.<br />

Entretanto, repetimos, este fato não invalida o filme. De Santis procurou<br />

retratar em sua fita a vida rude e primitiva dos pastores da região pedregosa e<br />

agreste da Ciociaria, seus dramas íntimos, seus problemas, seus costumes, e é<br />

inegável que atingiu perfeitamente seu objetivo. No começo do filme o<br />

narrador, que é o próprio De Santis, afirma (revelando logo sua preocupação<br />

pela luta de classes) que também na Ciociaria existe a injustiça social, também<br />

lá encontramos ricos e pobres, exploradores e explorados e depois toda a fita<br />

gira em torno da luta de um destes últimos, cujas ovelhas haviam sido roubadas<br />

durante a guerra, para reavê-las e vingar-se do ladrão. No final o herói vencerá,<br />

mas isto só será possível, quando os demais pastores se colocarem ao lado dele,<br />

o que permite a De Santis fazer uma afirmação das mais discutíveis, a de que a<br />

justiça humana só se concretiza quando os homens se unem. O curioso, porém,<br />

é que, ao mesmo tempo em que faz a apologia da comunidade dos homens, ele<br />

mostra no seu filme como os mesmos são medíocres, são covardes, são<br />

interesseiros, e não faz da comunidade, mas do seu personagem central, o<br />

super-homem impenetrável às balas, que se sobrepõe a todos os outros. Esta<br />

contradição, porém, não é surpreendente, pois é provavelmente o fruto da<br />

tentativa de De Santis de combinar o marxismo com os ideais totalitários.

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