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A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

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Assim pensa<strong>do</strong>s, os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> são instâncias públicas <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>opinião e vonta<strong>de</strong> política, muito mais <strong>do</strong> que instrumentos <strong>do</strong> governo ou da socieda<strong>de</strong>.Atuam na tematização e formulação da agenda pública, muito mais <strong>do</strong> que na suaexecução, na medida em que conce<strong>de</strong>m ou negam a chancela <strong>de</strong> “interesse público” às<strong>de</strong>mandas e interesses específicos ali apresentadas.Toman<strong>do</strong> a recente trajetória <strong>do</strong> Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, é possível acompanharalguns episódios ilustrativos <strong>do</strong> processo canônico <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação <strong>do</strong> interessepúblico, quanto a temas e <strong>de</strong>mandas específicas.É o caso <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> lei <strong>de</strong> regulamentação <strong>do</strong>s planos priva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,recentemente aprova<strong>do</strong> pelo Conselho para ser submeti<strong>do</strong> ao Legislativo. O tema vinha,há anos, sen<strong>do</strong> objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates postergatórios no âmbito da Câmara Fe<strong>de</strong>ral, sem quese lograsse chegar a uma redação que, pelo menos, organizasse as divergências equalificasse o projeto para ser submeti<strong>do</strong> à <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> Legislativo. Objeto <strong>de</strong> alto nível<strong>de</strong> conflito, a postergação favorecia diretamente a situação vigente, ou seja, os interesses<strong>do</strong>s empresários <strong>do</strong> setor que há anos se beneficiam da ausência <strong>de</strong> regulamentação. Aoassumir a tarefa <strong>de</strong> construir um projeto a ser encampa<strong>do</strong> pelo Executivo, o CNS iniciaum processo intensivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates, envolven<strong>do</strong> os diversos segmentos interessa<strong>do</strong>s(empresários, profissionais, tecnoburocracia, usuários), cuja interação se dá numambiente que associa alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> técnica com alta dramaticida<strong>de</strong> política. A conclusãofoi um projeto que, em substância, incorpora as principais <strong>de</strong>mandas das clientelas <strong>de</strong>ssesplanos, expandin<strong>do</strong> claramente o campo <strong>do</strong>s direitos <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> consumi<strong>do</strong>r. Poroutro la<strong>do</strong>, em que pese a representação <strong>do</strong>s empresários diretamente interessa<strong>do</strong>s, oprojeto veta algumas das principais <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong>sse grupo, que pleiteava a manutenção<strong>do</strong>s prazos <strong>de</strong> carência e a não cobertura <strong>de</strong> certas patologias. Os grupos maisempenha<strong>do</strong>s no <strong>de</strong>senho final <strong>do</strong> projeto, que po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s vitoriosos, foramos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, os porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> patologias e setores da burocracia governamental.Entretanto, o importante é que, ao ser ali aprova<strong>do</strong>, o projeto ganha o selo <strong>de</strong>interesse público. É claro que isso não garante sua aprovação pelo Legislativo, o que<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> como estarão lá distribuídas as influências <strong>do</strong>s diversos grupos, assimcomo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> sua mobilização no âmbito da socieda<strong>de</strong>. Entretanto, é inquestionávelque a existência <strong>do</strong> Conselho e a sua chancela <strong>de</strong> interesse público representam umanova variável no processo, que contribui para qualificar e <strong>de</strong>limitar os marcos <strong>de</strong>legitimida<strong>de</strong> em que tal <strong>de</strong>cisão será tomada, influin<strong>do</strong> portanto no cálculo político <strong>do</strong>smandatários e políticos interessa<strong>do</strong>s.Po<strong>de</strong>-se dizer que a existência <strong>de</strong> um circuito <strong>de</strong> tematização da agenda públicacomo o CNS impediu que os temas examina<strong>do</strong>s fossem discuti<strong>do</strong>s apenas à luz <strong>do</strong>auto-interesse <strong>do</strong>s grupos envolvi<strong>do</strong>s, introduzin<strong>do</strong> a mediação ou a referência aparâmetros <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>res <strong>do</strong> interesse público.Fica, então, claro que os Conselhos não governam, mas estabelecem os parâmetros<strong>do</strong> interesse público para o governo. Definem o que <strong>de</strong>ve ser feito e verificam / avaliamo que foi feito. Ao examinar <strong>de</strong>mandas e proposições, os Conselhos não as consi<strong>de</strong>ramem seu esta<strong>do</strong> bruto - como manisfestações <strong>de</strong> auto-interesse <strong>de</strong>ste ou daquele grupo -mas a partir <strong>de</strong> um processamento político-técnico que permite que sejam julgadasquanto à pertinência, viabilida<strong>de</strong>, priorida<strong>de</strong>, etc, <strong>de</strong> tal maneira que o auto-interesse<strong>de</strong>va se apresentar e se habilitar como interesse público. A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>ixa então <strong>de</strong> seruma <strong>de</strong>corrência imediata da correlação <strong>de</strong> forças, apurada através <strong>de</strong> votação simples,e passa a ser mediada por um rito <strong>de</strong> fundamentação e qualificação das propostasenquanto interesse público.SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>105

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