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A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

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limite, quan<strong>do</strong> a privação é das próprias funções relacionais. Por isso, valeria a penaconsi<strong>de</strong>rar, ainda que provisoriamente, especificida<strong>de</strong>s que se articulam, com grausdiferencia<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminações (“causalida<strong>de</strong>s”) e significa<strong>do</strong>s que, não sen<strong>do</strong> eternos,variam segun<strong>do</strong> interesses, padrões e valores que aqui e acolá prevalecem.Se estas consi<strong>de</strong>rações fazem senti<strong>do</strong>, uma questão mais parece ser pertinente: oque vem a ser, exatamente, “<strong>de</strong>terminação social da <strong>do</strong>ença”? Duas respostas parecemaqui possíveis. De imediato, a “causa” da <strong>do</strong>ença advinda da socieda<strong>de</strong>. Ou seja, a<strong>do</strong>ença seria melhor explicada pelos “fatores” sociais <strong>do</strong> que por aqueles biológicos.Será? Uma resposta afirmativa <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> observações empíricas: as <strong>do</strong>enças se distribuem<strong>de</strong>sigualmente na população e facilmente se vê “<strong>do</strong>ença <strong>de</strong> pobre” e “<strong>do</strong>ença <strong>de</strong> rico”.Todavia, eliminada a pobreza, sobrariam só as “<strong>do</strong>enças <strong>de</strong> rico”? Ou “<strong>do</strong>enças <strong>de</strong>to<strong>do</strong>s”? Seja qual for a resposta, o que subsiste é a idéia <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença.O que é evi<strong>de</strong>nte é a antecedência <strong>do</strong> substantivo em relação ao qualitativo.Antecedência cronológica, temporal, mas também lógica. É a <strong>do</strong>ença que inaugura epõe a questão da saú<strong>de</strong>, <strong>do</strong> não sofrimento, na or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> social. É pela sua explicaçãoque nexos se estabelecem, até mesmo em termos <strong>de</strong> relações causais. Mas, para isso, épreciso haver uma teoria que tome o fenômeno como objeto. Don<strong>de</strong>, a segundaconsi<strong>de</strong>ração a propósito da “<strong>de</strong>terminação social”. Na verda<strong>de</strong>, um fenômeno só vema ser um “fato” se sua percepção insere-se no horizonte <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> repertóriocultural. A <strong>do</strong>ença antece<strong>de</strong> à cultura enquanto fundamento material. Todavia, é sópela cultura que o evento, torna<strong>do</strong> “fato”, adquire significação. O sofrimento humano,experiência intransferível mas comunicável, po<strong>de</strong> ser <strong>do</strong>ença ou uma benção. Associeda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais, sem dúvida, ten<strong>de</strong>m a encará-lo como <strong>do</strong>r e, nesse senti<strong>do</strong>,buscam, se não eliminá-lo, pelo menos minimizá-lo. Sen<strong>do</strong> uma ou outra, o que aqui seressalta é não mais <strong>do</strong> que o valor (a boa ou má importância) atribuí<strong>do</strong> ao acontecer.Nesse senti<strong>do</strong>, a <strong>do</strong>ença e seu oposto (saú<strong>de</strong>) são, sem dúvida, socialmente <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s.Talvez por esta via possamos ensaiar alguma <strong>de</strong>finição que auxilie na construçãopermanente <strong>do</strong> “que fazer”. Se <strong>do</strong>ença é um valor, ele se refere a um algo qualifica<strong>do</strong>.Da vida, já se disse, o fundamento é o biológico cujas características básicas assentamseem processos relativamente estáveis, relativamente autônomos e abso<strong>luta</strong>mente reprodutores.O ser vivo é o da estabilida<strong>de</strong> temporária que se regula internamente, mas cujamaior finalida<strong>de</strong>, se se permite uma tal liberda<strong>de</strong> teleológica, é sua continuida<strong>de</strong> nooutro. “O inferno é o outro”, também já se pensou. O salmão, não se sabe bem como enem porque (talvez pelo olfato), enfrenta todas as correntes para, após a postura,encontrar o seu fim. Não sen<strong>do</strong> o homem somente isso, constrói para si finalida<strong>de</strong>s, emgeral as mais belas. Mas, isso é outra história... Por ora, o que interessa é i<strong>de</strong>ntificar aexistência <strong>de</strong> processos guia<strong>do</strong>s por leis próprias, sem que um telos possa neles seri<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s. São normas, diria Canguilhem, que regem os processos vitais. Normasque nós outros vamos consi<strong>de</strong>rar positivamente, se o sucesso <strong>do</strong> indivíduo (e da espécie)for garanti<strong>do</strong>, ou negativamente, se o ser sucumbe no meio <strong>de</strong> catástrofes, entre elas asque vamos conhecer como <strong>do</strong>enças. Normas mutáveis pois, uma vez superada a tormenta<strong>de</strong> “origem” tanto interna como externa, o ser triunfante estará sob o <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> regrassuperiores, novas e enriquece<strong>do</strong>ras. Por aí, uma pequena sugestão para dar significa<strong>do</strong>ao termo saú<strong>de</strong>, escapan<strong>do</strong> da tautologia <strong>de</strong> <strong>de</strong>fini-lo pela simples negação <strong>de</strong> seu oposto.Saú<strong>de</strong> seria não mais <strong>do</strong> que a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>do</strong>ecer e <strong>de</strong> sarar. A <strong>do</strong>ença? A rota queleva à catástrofe, ao fim antes da hora programada. Assim, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> das disposiçõesinternas e externas ao ser, a “boa” ou “má” norma prevalecerá.SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>215

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