12.07.2015 Views

A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Dominantes, as concepções veiculadas pelo Corpus Hippocraticum comportavam,também, idéias das <strong>do</strong>enças como “criaturas” ou “objetos”, principalmente através <strong>de</strong>metáforas militares, como nos mostra Vitrac 2 . Po<strong>de</strong>r-se-ia já aqui se ver um prenúncio<strong>de</strong> uma concepção ontológica da <strong>do</strong>ença, como mais tar<strong>de</strong> se verificará mas, o que nestemomento mais nos interessa é ressaltar é ressaltar a idéia <strong>de</strong> “equilíbrio”, porqueintegra<strong>do</strong>ra. É por ela que não se faz distinção essencial entre os elementos que compõema natureza. A noção <strong>de</strong> physis, ampla, congrega em um só movimento as especificida<strong>de</strong>sque, mais tar<strong>de</strong>, serão criadas. Ou seja, conceben<strong>do</strong> a “totalida<strong>de</strong>” como tu<strong>do</strong> que serefere aos “mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> andar a vida” (como diria Canguilhem), principalmente àquelesque na polis se concretizam, a idéia <strong>de</strong> physis não comporta distinções, hoje existentes,tais física e química, saú<strong>de</strong> e socieda<strong>de</strong>. Objetos esses cria<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> tempo, emconsonância com a própria mudança <strong>do</strong>s tempos.Desequilíbrio natural, posto que próprio <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sublunar, como queriaAristóteles, a <strong>do</strong>ença <strong>de</strong>ve ser “naturalmente” enfrentada. Curar se possível, prejudicarjamais, gran<strong>de</strong> lema hipocrático. A cura pela via da natureza (via medicatrix naturae)será o gran<strong>de</strong> esteio da terapêutica hipocrática, pelo menos nos seus primórdios.Essencialmente expectante e pedagógica, po<strong>de</strong>-se nela observar uma certacorrespondência com a forma escravista que se organizava a socieda<strong>de</strong> ateniense,protótipo da civilização grega clássica. Ao homem livre e rico, nos informa Platão,atenção, cortesia, dieta, repouso e termas. Aos pobres ou escravos, or<strong>de</strong>ns rápidas esecas <strong>de</strong> ‘médicos empíricos” ou escravos <strong>de</strong> médicos no exercício <strong>de</strong> uma medicina“resolutiva”, po<strong>de</strong>r-se-ia dizer. Tu<strong>do</strong> em conformida<strong>de</strong> com o que <strong>de</strong>veria ser, conclui ofilósofo.É notável que estas concepções tenham <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> o pensamento oci<strong>de</strong>ntal porcerca <strong>de</strong> <strong>do</strong>is mil anos, ainda que características diversas <strong>de</strong> saberes e práticas tenhamsurgi<strong>do</strong>, manten<strong>do</strong>-se o essencial. As razões são variadas. Contam-nos os historia<strong>do</strong>resque os romanos, à par to<strong>do</strong> seu engenho e arte bélico e administrativo (o registro dasleis, por exemplo), nada produziram em termos ditos “científicos”, muito menos noque se refere à arte <strong>de</strong> curar. A gran<strong>de</strong> figura <strong>do</strong>s primeiros tempos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Cristo foiGaleno que, ten<strong>do</strong> anda<strong>do</strong> por Roma, portava uma cultura helenística e um saber quese revelou inova<strong>do</strong>r. Forçan<strong>do</strong> um pouco a imagem, po<strong>de</strong>ríamos nele encontrar, porcausa <strong>de</strong> seus estu<strong>do</strong>s anatômicos e preocupações funcionais, um proto-instaura<strong>do</strong>r <strong>de</strong>um novo objeto da medicina. Sobre ele existem referências <strong>de</strong> relações estabelecidasentre certas <strong>do</strong>enças e exposições laborais a agentes “tóxicos”, o que proporcionaria apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um primeiro pensamento <strong>do</strong> que viria a ser uma “medicina <strong>do</strong> trabalho”.Dele, se recorda mais facilmente uma agressiva terapêutica assentada no contrariacontrariis curantur que se <strong>de</strong>ve, a se crer nos historia<strong>do</strong>res, muito mais à afoiteza <strong>de</strong> seussegui<strong>do</strong>res <strong>do</strong> que propriamente <strong>de</strong> suas condutas. Pensamento po<strong>de</strong>roso, certamentepelas fraquezas <strong>de</strong> eventuais alternativas, marcará presença nas socieda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntaisem épocas não tão distantes <strong>de</strong> nossos dias.O perío<strong>do</strong> medieval é aquele consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> “das trevas” (com alguma razão), mas<strong>do</strong> qual sairão algumas novida<strong>de</strong>s interessantes, principalmente aquelas que aqui nosinteressam mais <strong>de</strong> perto por se tratar da construção <strong>do</strong> novo objeto <strong>do</strong> pensar e <strong>do</strong> agirmédicos.2. Vitrac, B. Mé<strong>de</strong>cine et Philosophie au Temps d’Hippocrate. Press Universitaires <strong>de</strong> Vincennes, Paris. 1989.206 SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!