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A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

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ESTADO INSTRUMENTO E ESTADO ARENA: DO CONFRONTO POLÍTICO AOCONTROLE SOCIALItem privilegia<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>utrinário e da pauta programática da ReformaSanitária, a proposta participatória trilhou um longo percurso teórico e prático atéalcançar o formato institucional <strong>do</strong>s Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> contemporâneos. Nesseprocesso, adquiriu centralida<strong>de</strong> a noção <strong>de</strong> controle social que, aliás, disseminou-secomo prescrição normativa para a <strong>de</strong>mocratização das relações Esta<strong>do</strong>-socieda<strong>de</strong>.Oriun<strong>do</strong> da sociologia e da psicologia, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>signa os processos <strong>de</strong> influência<strong>do</strong> coletivo sobre o individual, o termo controle social teve seu significa<strong>do</strong> inverti<strong>do</strong>,transforman<strong>do</strong>-se em conceito operacional para <strong>de</strong>signar o processo e os mecanismos<strong>de</strong> influência da socieda<strong>de</strong> sobre o Esta<strong>do</strong>. Curiosamente, para isso, a socieda<strong>de</strong> passa aser i<strong>de</strong>ntificada com o interesse geral e o Esta<strong>do</strong> é ti<strong>do</strong> como liminarmente comprometi<strong>do</strong>com interesses particulares.Apropria<strong>do</strong> pelo senso comum no contexto brasileiro da <strong>luta</strong> contra o Esta<strong>do</strong>autoritário, o termo controle social adquire, não sem razão, forte conotação maniqueístae instrumental. Maniqueísta porque tanto o Esta<strong>do</strong> quanto a socieda<strong>de</strong> são <strong>de</strong>stituí<strong>do</strong>sdas complexas relações sociais neles embutidas, e rebaixa<strong>do</strong>s a entes homogêneos,anima<strong>do</strong>s por vocações distintas. O Esta<strong>do</strong>, vilão, i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> com interesses privatistase práticas exclu<strong>de</strong>ntes, usurpa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> interesse público; a socieda<strong>de</strong>, vítima, i<strong>de</strong>ntificadacom os interesses coletivos, excluída da <strong>de</strong>cisão pública. Instrumental porque tratavase,então, <strong>de</strong> estabelecer estruturas ou mecanismos capazes <strong>de</strong> funcionar comoinstrumentos da socieda<strong>de</strong> para controlar o Esta<strong>do</strong>.Foi a partir <strong>de</strong>sses referenciais que os Conselhos <strong>de</strong>senvolveram suas práticasiniciais e mo<strong>de</strong>laram sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> política. Se sua disseminação foi favorecida poresse imaginário, é possível que, hoje, ele represente um obstáculo a uma compreensãomais a<strong>de</strong>quada <strong>do</strong> papel <strong>de</strong>sses órgãos. Para prosseguir, é recomendável uma breverecapitulação da sequência <strong>de</strong> referenciais teóricos e conjunturas políticas sob as quaisse moldaram as idéias e práticas que originaram os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.Po<strong>de</strong>-se dizer que a noção <strong>de</strong> controle social, tal como emergiu na agenda daReforma Sanitária, é marcada por uma combinação <strong>de</strong> influências <strong>do</strong> paradigma marxista<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> instrumental e <strong>do</strong> paradigma liberal <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> plural.Assim, bem antes <strong>de</strong> preten<strong>de</strong>r controlar, o movimento sanitário buscou confrontaro Esta<strong>do</strong>. A politização das <strong>luta</strong>s comunitárias por saú<strong>de</strong>, ocorrida ao longo <strong>do</strong>s últimosanos da década <strong>de</strong> 70, junto com a emergência <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s movimentos sociaisurbanos, resultou numa contestação frontal ao regime militar <strong>de</strong> 64, i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> compráticas política e socialmente exclu<strong>de</strong>ntes e com interesses priva<strong>do</strong>s. Era, então,amplamente <strong>do</strong>minante a influência <strong>do</strong> pensamento estruturalista, sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong> cortemarxista, no balizamento teórico e programático <strong>do</strong> movimento sanitário. Decisiva paraa crítica ao mo<strong>de</strong>lo biomédico <strong>de</strong> explicação <strong>do</strong> processo saú<strong>de</strong>-<strong>do</strong>ença, essa matriz <strong>de</strong>pensamento i<strong>de</strong>ntificava as estruturas sociais como <strong>de</strong>terminantes para a produção e<strong>de</strong>sigual distribuição <strong>do</strong>s riscos sanitários entre as populações. Nesse mo<strong>de</strong>lo, o Esta<strong>do</strong>cumpria o papel <strong>de</strong> reproduzir a or<strong>de</strong>m estrutural e funcionava como um instrumento<strong>do</strong>s grupos sociais <strong>do</strong>minantes, guardião <strong>de</strong> seus interesses. Sobre esse Esta<strong>do</strong> -verda<strong>de</strong>iro “comitê <strong>de</strong> negócios da burguesia” - só era possível a influência <strong>de</strong> forapara <strong>de</strong>ntro, a partir das pressões <strong>do</strong>s movimentos sociais e suas <strong>luta</strong>s reivindicatórias,SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>95

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