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A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

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DE PERTO NINGUÉM É ANORMAL - A TÍTULO DE INCONCLUSÃOO Movimento da Reforma Psiquiátrica – na permanente falta <strong>de</strong> melhor <strong>de</strong>nominação43 –, tem si<strong>do</strong> caracteriza<strong>do</strong> como um <strong>do</strong>s mais vigorosos e persistentesmovimentos sociais no Brasil contemporâneo. Diferentemente <strong>de</strong> outros movimentos,que apenas reivindicam ganhos materiais (em que pese a importância <strong>de</strong> tais reivindicações),o Movimento da Reforma Psiquiátrica aproxima-se <strong>do</strong>s movimentos <strong>de</strong> caráterautenticamente <strong>de</strong>mocrático e social, na medida em que reivindica e <strong>luta</strong> efetivamentepor uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida em seu senti<strong>do</strong> mais amplo (solidarieda<strong>de</strong>,igualda<strong>de</strong>, cidadania). Nasci<strong>do</strong> parcialmente no âmbito <strong>do</strong> Movimento da ReformaSanitária, soube ir bem mais longe: colocou em discussão o mo<strong>de</strong>lo médico-psicológico<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento sobre o objeto <strong>do</strong>ença e sobre a noção <strong>de</strong> terapêutica.Embora o Movimento da Reforma Sanitária tenha nasci<strong>do</strong> calca<strong>do</strong> fundamentalmentena crítica ao mo<strong>de</strong>lo médico, <strong>de</strong>la se distanciou ao mesmo tempo em que se aproximoudas estratégias <strong>do</strong> planejamento normativo, nas quais é ainda fortemente apega<strong>do</strong>.Por ter rompi<strong>do</strong> com a racionalida<strong>de</strong> médica, o Movimento da Reforma Psiquiátricaconseguiu sair das malhas restritas das políticas oficiais, conseguiu construirsituações no exterior <strong>do</strong> aparato oficial, conseguiu romper com o mo<strong>de</strong>lo assistencialistatradicional. Enquanto o Movimento da Reforma Sanitária continua reivindican<strong>do</strong> maisserviços, mais recursos humanos e mais tecnologias, o da Reforma Psiquiátrica querre<strong>de</strong>fini-los.Embora o Esta<strong>do</strong> tenha incorpora<strong>do</strong> as diretrizes <strong>do</strong> Movimento da Reforma Psiquiátrica,cumpre assinalar uma importante singularida<strong>de</strong>: as formulações <strong>de</strong> políticaspúblicas, que sempre vêm <strong>de</strong> “cima para baixo”, como se usa dizer, no caso específicoda situação que abordamos fizeram o percurso inverso. Neste senti<strong>do</strong>, em que pesem asimportantes medidas assumidas pelo Esta<strong>do</strong> brasileiro no senti<strong>do</strong> da <strong>de</strong>sinstitucionalizaçãopsiquiátrica proposta pelo Movimento, é importante observar que o Esta<strong>do</strong>ten<strong>de</strong> a apropriar-se das mesmas, o que produz efeitos <strong>de</strong> banalização, burocratização e<strong>de</strong>squalificação <strong>do</strong> processo que, por <strong>de</strong>finição, <strong>de</strong>ve estar em permanente <strong>de</strong>sequilíbrio,em permanente <strong>de</strong>sconstrução/invenção.Em outras palavras, o Movimento que conseguiu reunir milhares <strong>de</strong> pessoas emvárias ocasiões po<strong>de</strong> tornar-se um aparelho accessório das políticas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>; os interessesque hoje o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> e impõe, não são necessariamente os interesses da<strong>de</strong>sinstitucionalização tal como a enten<strong>de</strong>mos.A preocupação tem fundamento na medida em que esta apropriação existiu nosperío<strong>do</strong>s da Co-gestão ou <strong>do</strong> Conasp, o que se esten<strong>de</strong> também para o Movimento daReforma Sanitária, com a distinção <strong>de</strong> que este último <strong>de</strong>la não conseguiu <strong>de</strong>svencilharse.43. O nome <strong>do</strong> movimento tem si<strong>do</strong> um histórico problema. Nos momentos <strong>de</strong> sua constituição já se discutiase <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>nominar-se movimento <strong>de</strong> profissionais ou <strong>de</strong> técnicos, <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental ou em saú<strong>de</strong> mental,e assim por diante, refletin<strong>do</strong> posições políticas e i<strong>de</strong>ológicas <strong>de</strong> suas tendências. Por ocasião datransformação em movimento social, o <strong>de</strong>bate em torno da <strong>de</strong>nominação girava em torno <strong>de</strong> seranti(antimanicomial) ou sem(manicômios), ou pró(reforma psiquiátrica). A expressão reforma tambémtem si<strong>do</strong> objeto <strong>de</strong> longas discussões, como vimos, assim como saú<strong>de</strong> mental. Sabemos que a expressãosaú<strong>de</strong> mental nasceu da psiquiatria preventiva como a utopia <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sem sofrimentos, <strong>do</strong>ençasou <strong>do</strong>res, portanto, um i<strong>de</strong>al higienista. Tenho insisti<strong>do</strong> no termo Movimento da Reforma Psiquiátricapor sua generalida<strong>de</strong>, assim como pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir parcerias em outros setores, mas sempreten<strong>de</strong>r resolver a questão, na medida em que a enten<strong>do</strong> como um processo permanente.182 SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>

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