12.07.2015 Views

A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

2.1) O caso da pesquisa sobre a sífilis feita com 600 indivíduos afroamericanos,<strong>de</strong> sexo masculino, <strong>de</strong> Tuskegee, AL., entre 1932 e 1972, conheci<strong>do</strong>como o caso <strong>do</strong> “sangue mau” (bad blood). Neste caso, os pesquisa<strong>do</strong>resenvolvi<strong>do</strong>s sonegaram informações e o tratamento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> disponível(penicilina) a 399 porta<strong>do</strong>res da <strong>do</strong>ença para po<strong>de</strong>r estudar seus efeitos a longoprazo 13 , infringin<strong>do</strong> portanto o princípio <strong>do</strong> consentimento informa<strong>do</strong>, mesmo<strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ste ter si<strong>do</strong> claramente formula<strong>do</strong> na Declaração <strong>de</strong> Nuremberg <strong>de</strong>1947 (além <strong>de</strong> tratar-se <strong>de</strong> um flagrante caso <strong>de</strong> preconceito racial e social, e<strong>de</strong> infringir os “sagra<strong>do</strong>s” princípios <strong>do</strong> primum non nocere e <strong>do</strong> bonum facereda <strong>de</strong>ontologia médica tradicional). A experiência só será interrompidaquarenta anos mais tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> caso ter si<strong>do</strong> <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong> em 1972 naprimeira página <strong>do</strong> New York Times. Uma comissão, nomeada peloDepartment of Health, Education and Welfare, concluiu em 1973 que o casoera anti-ético e <strong>de</strong>via ser interrompi<strong>do</strong> imediatamente, argumentan<strong>do</strong> que “asocieda<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> mais permitir que o equilíbrio entre direitos individuais eo progresso científico seja <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> unicamente pela comunida<strong>de</strong>científica” 14 .2.2) O caso da injeção <strong>de</strong> células hepáticas cancerígenas vivas, feita em 1964em 22 pacientes i<strong>do</strong>sos <strong>do</strong> Jewish Chronic Disease Hospital <strong>do</strong> Brooklyn emNova Iorque. Também neste caso, os médicos achavam que podiam fazerqualquer tipo <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que fosse (supostamente) em benefício dahumanida<strong>de</strong> porque contribuiria para o avanço da ciência. De fato, tambémneste caso, os pacientes não foram suficientemente, nem a<strong>de</strong>quadamente,informa<strong>do</strong>s para po<strong>de</strong>r dar seu consentimento esclareci<strong>do</strong>. Os médicos foram,portanto, <strong>de</strong>clara<strong>do</strong>s culpa<strong>do</strong>s pelo Board of Regents <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Nova Iorque<strong>de</strong> infringir a <strong>de</strong>ontologia profissional e <strong>de</strong> “frau<strong>de</strong> e <strong>do</strong>lo na prática damedicina” 15 .2.3) O caso da infecção intencional com o vírus da hepatite em aproximadamente700-800 crianças retardadas graves <strong>do</strong> Willowbrook State School forthe Retar<strong>de</strong>d, ocorrida entre 1956 e 1970 16 . Neste caso, infringiu-se, tanto oprincípio <strong>de</strong> beneficência (bonum facere) quanto o princípio <strong>de</strong> não-maleficência(primum non nocere), isto é, os tradicionais princípios da <strong>de</strong>ontologia médica,além <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais princípios, pois a pesquisa aumentava o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<strong>do</strong>enças hepáticas crônicas, já que os pacientes não tinham recebi<strong>do</strong> <strong>do</strong>sesprotetoras <strong>de</strong> gamaglobulina como as outras crianças. Além disso, oconsentimento era obti<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma fraudulenta, pois vinculava-se a aceitaçãoda criança no hospital à condição <strong>de</strong> se submeter à pesquisa. Quan<strong>do</strong> o casofoi <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong>, fechou-se o hospital mas ninguém foi persegui<strong>do</strong>judicialmente 17 .Estes casos po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como paradigmáticos para enten<strong>de</strong>r ocontexto <strong>de</strong> apreensão para com os abusos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>do</strong>s cientistas sobre a vida daspessoas no qual emerge a bioética. Mas, como mostrou o professor Henry K. Beecher daEscola <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Harvard, num polêmico artigo publica<strong>do</strong> em1966 no New England Journal of Medicine 18 , os casos <strong>de</strong> abusos contra a saú<strong>de</strong> e a vida <strong>do</strong>spacientes submeti<strong>do</strong>s à pesquisa clínica (que infringiam os princípios <strong>de</strong> não-meleficênciae <strong>de</strong> beneficência da <strong>de</strong>ontologia médica tradicional), sem informá-los a<strong>de</strong>quadamenteda relação provável entre riscos previsíveis e benefícios espera<strong>do</strong>s, nem pedir seu consentimento,eram moeda corrente na prática clínica norte-americana. Além disso, para230 SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!