12.07.2015 Views

A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

MANICÔMIOS, COMO VIVER SEM ELES?AS TRANSFORMAÇÕES NO CAMPOS ASSISTENCIALNão é nada, não é nada, passaram-se vinte anos!Quan<strong>do</strong> teve início o Movimento da Reforma Psiquiátrica, sabia-se com certezaque as transformações não ocorreriam da noite para o dia. Afinal, seriam duzentos anos<strong>de</strong> história da psiquiatria a ser muda<strong>do</strong>s: duzentos anos <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong>prática que instruiu à socieda<strong>de</strong> na forma <strong>de</strong> lidar com a loucura. Naqueles anos eraextremamente grave a situação da assistência psiquiátrica no Brasil, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com osrelatórios <strong>do</strong> próprio MTSM que forneciam alguns indícios da árdua <strong>luta</strong> que se tinhapela frente.A assistência psiquiátrica era prestada pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> (MS), pelo Ministérioda Previdência e Assistência Social (MPAS) e pelas próprias Secretarias Estaduais<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SES). Ao MS e às SES competia, basicamente, a assistência à populaçãoindigente, isto é, sem direito à Previdência Social (PS) 5 . Suas re<strong>de</strong>s eram compostas <strong>de</strong>macro-hospitais com características fortemente asilares e manicomiais: a abso<strong>luta</strong>ausência <strong>de</strong> recursos técnicos e materiais marcavam estas unida<strong>de</strong>s que, apenas por seuestatuto jurídico-institucional po<strong>de</strong>riam ser <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> hospitais. Ou seja, o MS eas SES apenas administravam macro asilos para a população em gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>svantagemsocial, isto é, um misto <strong>de</strong> loucos, um misto <strong>de</strong> indigentes, os <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s “casossociais” 6 . Por outro la<strong>do</strong>, ao MPAS competia a assistência aos previ<strong>de</strong>nciários e seus<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Sem qualquer re<strong>de</strong> própria, o MPAS exercitava, principalmente a partirda criação <strong>do</strong> INPS em 1967, a política da compra <strong>de</strong> serviços da re<strong>de</strong> privada, que erapaga por Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviço, ou seja, cada ato realiza<strong>do</strong> pelo serviço ao paciente previ<strong>de</strong>nciário.Carlos Gentile <strong>de</strong> Mello, precursor e histórico combatente contrário a esta políticaprivatizante, insistia, persistentemente, em <strong>de</strong>nunciar as distorções que este sistemaacarretava:1. pagamento <strong>de</strong> serviços que não são produzi<strong>do</strong>s (pacientes fantasmas, medicamentosnão emprega<strong>do</strong>s);2. pagamento <strong>de</strong> serviços que são produzi<strong>do</strong>s mas não são necessários (intervençõescirúrgicas sem indicação técnica);3. pagamento <strong>de</strong> serviços que são produzi<strong>do</strong>s, são necessários, mas po<strong>de</strong>riamser realiza<strong>do</strong>s com racionalida<strong>de</strong> (internações <strong>de</strong> casos que po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vemser trata<strong>do</strong>s em ambulatórios) 7 .Tais distorções levaram ao diagnóstico, por parte <strong>do</strong>s técnicos <strong>do</strong> próprio INAMPS,<strong>de</strong> que em 1977 ocorreram 195.000 internações <strong>de</strong>snecessárias em psiquiatria no país, e5. Com exceção da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo que, além <strong>de</strong> manter hospitais próprios,contratava leitos priva<strong>do</strong>s a preços mais atraentes que aqueles pagos pelo MPAS.6. Para se ter uma idéia da dimensão <strong>de</strong>stes hospitais/albergues, no ano <strong>de</strong> 1967, o Hospital Colônia <strong>de</strong>Juqueri (SP) tinha 13.637 leitos, enquanto que o <strong>de</strong> Barbacena (MG) 5.103, a Colônia Juliano Moreira4.923 e o São Pedro (RS) 4.308. Cumpre assinalar que era muito comum, tanto nos hospitais públicosquanto nos priva<strong>do</strong>s, o expediente <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>de</strong> “leito-chão”, um eufemismo cínico que justificava ainternação sem o leito correspon<strong>de</strong>nte que, mesmo assim, era pago pela PS. A este respeito ver Cerqueira,Luis, 1984. Psiquiatria social - Problemas brasileiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental. Rio <strong>de</strong> Janeiro-São Paulo, Atheneu,pp. 73.166 SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!