A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI
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qual só po<strong>de</strong>ria existir um pluralismo <strong>de</strong> morais, sem nenhum <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>r comum anão ser, talvez, o projeto <strong>de</strong> um “esperanto moral” (Michael Walzer) 26 que, como sabemos,nunca conseguiu ser uma lingua universal. E isto porque, <strong>de</strong> fato, em bioética, e <strong>de</strong>forma mais geral, na própria ética, convive uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagens nem semprecompatíveis entre si, como aqueles das “virtu<strong>de</strong>s”, <strong>do</strong>s “<strong>de</strong>veres” e <strong>do</strong>s “princípios”,que vêm <strong>de</strong> tradições culturais diferentes diferentes 27 .Afinal, a concepção que prevalecerá será aquela <strong>do</strong> Kennedy Institute, conhecidatambém como “mo<strong>de</strong>lo Georgetown” 28 .Resumin<strong>do</strong>, nesta fase pre<strong>do</strong>minou a discussão sobre os fundamentos epistemológicosda nova disciplina e sobre os méto<strong>do</strong>s e o campo <strong>de</strong> sua aplicabilida<strong>de</strong>.Depois <strong>de</strong>sta controvérsia inicial entre a visão abrangente (ou “global”), <strong>de</strong>fendidapor Potter, e a visão mais <strong>de</strong>limitada e técnica, <strong>de</strong>fendida pelos pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong>Kennedy Institute, em que se discutiu se a bioética <strong>de</strong>via ser uma nova forma <strong>de</strong> relaçãointerdisciplinar entre ciências biomédicas e valores humanos, aborda<strong>do</strong>stradicionalmente pela filosofia e a teologia, pre<strong>do</strong>minou o principialismo 29 , tipo <strong>de</strong> análisemoral conheci<strong>do</strong> também como “mo<strong>de</strong>lo Georgetown.O “principialismo” é o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> análise moral consistente em utilizar os quatroprincípios prima facie <strong>de</strong> autonomia, justiça, beneficência e não-maleficência, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>scomo valores característicos e mais ou menos abrangentes da moralida<strong>de</strong> da tradiçãooci<strong>de</strong>ntal, apesar da pluraliuda<strong>de</strong> <strong>de</strong> concepções sobre o bem e o mal, o correto e oincorreto, o justo e o injusto, etc. Tais valores (que são, na realida<strong>de</strong>, gui<strong>de</strong>lines para oagir) são chama<strong>do</strong>s “prima facie”, quer dizer, não-absolutos, e é esta a novida<strong>de</strong> principal<strong>do</strong> ethos das socieda<strong>de</strong>s contemporâneas com relação às socieda<strong>de</strong>s tradicionais. Comefeito, o Principialismo nasce essencialmente da constatação <strong>de</strong> que vivemos em ummun<strong>do</strong> seculariza<strong>do</strong>, politeísta, no qual não po<strong>de</strong>mos mais nos referir a fundamentosseguros, <strong>de</strong>finitivos, a-históricos. O principialismo seria portanto a única forma <strong>de</strong>“fundamentação” - <strong>de</strong> fato “débil” ou “enfraquecida”- ainda possível neste contextobastante relativista. Contu<strong>do</strong>, durante os anos 70 e 80 não faltaram críticas a este mo<strong>de</strong>loe a mais contun<strong>de</strong>nte talvez seja aquela <strong>de</strong> Danner K. Clouser e Bernard Gert, publicadano Journal of Medical Philisophy 30 , on<strong>de</strong> os autores consi<strong>de</strong>ram o principialismo totalmenteinconsistente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à falta <strong>de</strong> uma teoria unificada capaz <strong>de</strong> dirimir os conflitoscom os quais se <strong>de</strong>fronta o médico na sua prática concreta. Tal crítica provocou a resposta<strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>res <strong>do</strong> principialismo, Tom Beauchamp e James Childres, na quarta edição <strong>de</strong>sua obra 31 , chegan<strong>do</strong> a classificar seus críticos <strong>de</strong> forma irónica como “<strong>de</strong>dutivistasplenos” (full-fledged <strong>de</strong>ductivists 32 ). Contu<strong>do</strong>, durante esta fase, o “principialismo”conseguiu conviver com as críticas, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral sem atritos insanáveis com as outrastendências principais da bioética, tais como o mo<strong>de</strong>lo das “virtu<strong>de</strong>s” <strong>de</strong> EdmundPellegrino e David Thomasma 33 ; o mo<strong>de</strong>lo “casuístico” <strong>de</strong> Albert R. Jonsen e StephenToulmin 34 ; o mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong>s “cuida<strong>do</strong>s” da psicóloga Carol Gilligan 35 ; o mo<strong>de</strong>lo “contratualista”<strong>de</strong> Robert Veatch 36 . Este fato fez com que esta fase pu<strong>de</strong>sse ser <strong>de</strong>nominadapor Daniel Callahan como aquela <strong>do</strong> friendly field 37 .Entre as críticas pertinentes feitas ao “principialismo” <strong>de</strong>stacaremos aquela queacusa este <strong>de</strong> privilegiar <strong>de</strong> fato um único princípio, o da autonomia, relegan<strong>do</strong> emsegun<strong>do</strong> lugar os <strong>de</strong>mais princípios (beneficência, não-maleficência e justiça). Desta forma,argumenta-se, não teríamos propriamente quatro princípios prima facie, mas <strong>de</strong> fato umprincípio único (a autonomia) prevalecen<strong>do</strong> sobre os outros. Esta crítica proce<strong>de</strong>, talvezmenos com relação a Beauchamp e Childress, e mais com relação à primeira edição da232 SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>