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A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

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As portarias <strong>do</strong> Ministério da Saú<strong>de</strong> que introduzem e normalizam as novas modalida<strong>de</strong>se procedimentos na assistência em saú<strong>de</strong> mental representam um avançosignificativo, na medida em que viabilizam o financiamento <strong>do</strong>s mesmos, sem o qualnão há serviços ou ações. As propostas antes “alternativas” ao mo<strong>de</strong>lo tradicional nãosaíam efetivamente <strong>do</strong> papel ou das idéias, pois não eram <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s recursos financeirospara tanto. Um aspecto, contu<strong>do</strong>, é preocupante: trata-se da equiparação teórica emeto<strong>do</strong>lógica entre CAPS e NAPS. Como vimos, são duas propostas política econceitualmente distintas em que a segunda foi reduzida à primeira. O CAPS é umserviço intermediário e “alternativo” (na medida em que assume o paralelismo com osistema manicomial, embora seja estratégico em <strong>de</strong>terminadas situações); já o NAPS,um serviço substitutivo, que tem fundamento na <strong>de</strong>sconstrução <strong>do</strong> sistema anterior.Esta redução é, sem dúvida, um aspecto que <strong>de</strong>ve ser enfrenta<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> quesejam diferencia<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>is sistemas e que o primeiro caminhe na direção <strong>do</strong> segun<strong>do</strong>.Um outro aspecto importante a ser enfrenta<strong>do</strong> diz respeito à possibilida<strong>de</strong>,oferecida pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> cre<strong>de</strong>nciamento <strong>de</strong> serviços territoriais (CAPS eNAPS) priva<strong>do</strong>s. Ao funcionarem sob a égi<strong>de</strong> <strong>do</strong> lucro, os serviços priva<strong>do</strong>s colocamseriamente em risco um <strong>do</strong>s mais caros princípios da noção <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong>, que é oprincípio da “tomada <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>”. Este refere-se ao compromisso <strong>de</strong> dispor,integral e continuamente, <strong>de</strong> uma gama plurimorfa <strong>de</strong> ações sanitárias, sociais e culturais:as ações privadas, no entanto, como têm <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> suas práticas, terminam quan<strong>do</strong>o lucro se torna ameaça<strong>do</strong>. Mais que isso, os serviços territoriais não po<strong>de</strong>m serentendi<strong>do</strong>s como fornece<strong>do</strong>res <strong>de</strong> ações meramente sanitárias, mas como espaçosconcretos e simbólicos <strong>de</strong> ações complexas, múltiplas e intermitentes, em to<strong>do</strong> o campo<strong>do</strong> território. Em resumo, o cre<strong>de</strong>nciamento <strong>de</strong> serviços priva<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sta natureza indicamuma forte contradição no âmbito da Reforma Psiquiátrica.A questão da <strong>de</strong>nominação <strong>do</strong> Movimento, também não é uma questão menor. Acada vez que se discute a <strong>de</strong>nominação, está-se discutin<strong>do</strong> os projetos, os rumos, asestratégias. “De perto ninguém é normal”, uma importante estratégia no senti<strong>do</strong> daconstrução <strong>de</strong> um imaginário social volta<strong>do</strong> para o questionamento <strong>do</strong>s conceitos <strong>de</strong>normalida<strong>de</strong>/anormalida<strong>de</strong>, e que se tornou emblemática da ação cultural <strong>do</strong>Movimento, por exemplo, <strong>de</strong>ve ser re<strong>de</strong>scrito nas atuais circunstâncias. A indústriafarmacêutica, por exemplo, po<strong>de</strong> se valer <strong>de</strong>sta insígnia para viabilizar um amploprocesso <strong>de</strong> medicalização da normalida<strong>de</strong>: se <strong>de</strong> perto ninguém é normal, então to<strong>do</strong>spo<strong>de</strong>m, ou <strong>de</strong>vem, receber uma prescrição medicamentosa. As pesquisasepi<strong>de</strong>miológicas, cujos méto<strong>do</strong>s são pouco claros ou divulga<strong>do</strong>s, transbordam pela mídiatentan<strong>do</strong> convencer à socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que somos to<strong>do</strong>s fóbicos ou <strong>de</strong>primi<strong>do</strong>s ou ansiosos.Venturini, como exemplo, sugere-nos que se <strong>de</strong> perto ninguém é normal, po<strong>de</strong>-se afirmartambém que “<strong>de</strong> perto ninguém é anormal”, no senti<strong>do</strong> “<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r superar o conceito<strong>de</strong> cura com aquele <strong>de</strong> experiência complexa, <strong>de</strong> entrelaçamento <strong>de</strong> ‘sistemas <strong>de</strong>sistemas’”. 44 Por outro la<strong>do</strong>, na crise <strong>do</strong>s princípios e parâmetros da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, éoportuno ter em mente que novos lugares sociais serão construí<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong>s novosparadigmas sociais, culturais e científicos. Assim, um novo lugar para a loucura, para aanormalida<strong>de</strong>, para a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve estar também em construção. O que faria SimãoBacamarte com a loucura no século XXI?44. Venturini, Ernesto, 1995. Prefácio. In: Loucos pela vida - A trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil, op.cit., pp. 15-19.SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>183

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