A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI
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que, em setembro <strong>de</strong> 1989, surgiu o Projeto <strong>de</strong> Lei <strong>do</strong> Deputa<strong>do</strong> Paulo Delga<strong>do</strong>, que setornaria o centro <strong>do</strong>s <strong>de</strong>bates em torno da reforma psiquiátrica nos próximos sete anos 23 .Este PL consolidava no <strong>de</strong>bate nacional, o princípio da superação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lopsiquiátrico tradicional, na medida em que dispunha “sobre a extinção progressiva <strong>do</strong>smanicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais e regulamenta ainternação psiquiátrica compulsória”. Seu surgimento, no entanto, foi acompanha<strong>do</strong>por algumas discordâncias no âmbito <strong>do</strong> Movimento, na medida em que não haviaconsenso quanto ao momento exato <strong>de</strong> sua apresentação. Alguns segmentos <strong>do</strong> Movimentoargumentavam haver pouca discussão interna e, mais que isso, insuficiente construção<strong>de</strong> uma base sólida <strong>de</strong> apoios sociais antes <strong>de</strong> sua apresentação na Câmara <strong>do</strong>sDeputa<strong>do</strong>s. A parte tais discordâncias, prevaleceu a posição <strong>de</strong> apoiá-lo, pois consi<strong>de</strong>rava-seque, uma vez incluí<strong>do</strong> no <strong>de</strong>bate nacional, o Movimento <strong>de</strong>veria <strong>luta</strong>r porsua aprovação.O PL teve o mérito <strong>de</strong> introduzir a questão da assistência psiquiátrica na or<strong>de</strong>m<strong>do</strong> dia da mídia nacional, ao mesmo tempo em que <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> associações <strong>de</strong> usuáriose familiares, algumas já existentes anteriormente, foram constituídas em função <strong>de</strong>ste<strong>de</strong>bate. Umas contrárias, muitas a favor, o resulta<strong>do</strong> importante <strong>de</strong>ste contexto é que,<strong>de</strong> forma inédita e muito peculiar, o tema da loucura, da <strong>do</strong>ença mental, da assistênciapsiquiátrica e <strong>do</strong>s manicômios, invadiu boa parte <strong>do</strong> interesse nacional.Em que pese a importância <strong>do</strong> PL, contu<strong>do</strong>, algumas questões fundamentais nãoforam contempladas no mesmo (embora este talvez não fosse o seu objetivo):1. não propõe a extinção da relação entre <strong>do</strong>ença mental e periculosida<strong>de</strong>; 2. não propõea extinção da figura jurídico-institucional <strong>do</strong> hospital psiquiátrico (manicômio); e, 3.restringe à responsabilida<strong>de</strong> exclusiva <strong>do</strong> médico (e não da equipe técnica) a emissão<strong>do</strong> lau<strong>do</strong> para a internação psiquiátrica compulsória.Se por um la<strong>do</strong>, em pouco tempo após sua apresentação na Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s,o projeto tivesse si<strong>do</strong> aprova<strong>do</strong> naquela casa, o mesmo não suce<strong>de</strong>ria no Sena<strong>do</strong>,arrastan<strong>do</strong>-se o <strong>de</strong>bate até os dias atuais 24 . Mesmo assim, o PL estimula o surgimento <strong>de</strong>projetos <strong>de</strong> leis estaduais que, seguin<strong>do</strong> suas diretrizes básicas, <strong>de</strong>scentralizaram aatuação política e transforma<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Movimento para o âmbito local, sen<strong>do</strong> que emcinco esta<strong>do</strong>s (Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, Ceará, Pernambuco, Minas Gerais e Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong>Norte), foram aprova<strong>do</strong>s projetos <strong>de</strong> lei com o mesmo propósito que o PL 3657/89.A experiência <strong>de</strong> Santos e o PL contribuiram <strong>de</strong>finitivamente para a extensão <strong>do</strong><strong>de</strong>bate e para o surgimento <strong>de</strong> novos e significativos processos, tanto assistenciais quantoculturais. Assim, um novo ator, para além das entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> técnicos, e mesmo <strong>do</strong>transmuta<strong>do</strong> MTSM, aparecia no cenário das políticas públicas: as entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> usuáriose familiares que, simboliza<strong>do</strong>s pela associação nascida em torno <strong>do</strong> Hospital <strong>de</strong> Juqueri,dão bem a tônica <strong>de</strong>ste momento: “Loucos pela Vida” 25 .23. Delga<strong>do</strong>, Paulo, 1989. Projeto <strong>de</strong> Lei nº 3.657/89.24. No Sena<strong>do</strong> foi rejeita<strong>do</strong> o parecer <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>r Lúcio Alcântara, favorável à aprovação e, em seu lugar,foi aprova<strong>do</strong> o Substitutivo <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>r Lucídio Portela. Este, sob forte lobby da “indústria da loucura”,propõe melhorias superficiais no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> assistência psiquiátrica, inclusive no manicômio, que émanti<strong>do</strong>. Assim, o PL e o Substitutivo ainda <strong>de</strong>verão ser aprecia<strong>do</strong>s pelo Congresso Nacional.25. O nosso livro sobre a trajetória da reforma psiquiátrica brasileira, Loucos pela vida, op. cit., mereceu estetítulo em referência a esta associação.SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>173