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A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

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que o Esta<strong>do</strong> pu<strong>de</strong>sse ser passível <strong>de</strong> influência a ponto <strong>de</strong> implementar as medidasredistribuitivas <strong>de</strong>madadas pelos setores excluí<strong>do</strong>s e agora representa<strong>do</strong>s nos Conselhos.Levada ao extremo, essa <strong>de</strong>sconfiança po<strong>de</strong> para<strong>do</strong>xalmente provocar um rebaixamentoou “atraso” nas práticas <strong>do</strong>s Conselhos, reduzin<strong>do</strong>-as a uma dimensão meramente fiscalizatória,on<strong>de</strong> a obsessão com o controle burocrático <strong>de</strong> processos termina por fazernegligenciar a preocupação com resulta<strong>do</strong>s, elo mais importante <strong>de</strong> ligação <strong>do</strong>sConselhos com a socieda<strong>de</strong> representada, sobretu<strong>do</strong> os setores excluí<strong>do</strong>s.Ambas as situações extremas têm como base comum a visão instrumental <strong>do</strong>sConselhos que, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s “braços” da socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vem manter-se em posição externaao Esta<strong>do</strong>, seja para guerreá-lo, seja para vigiá-lo, seja para invadi-lo, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>resultar numa perspectiva <strong>de</strong> controle social <strong>de</strong>spolitizada e eventualmente inócua. Daía necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superar a visão maniqueísta das relações Esta<strong>do</strong>-socieda<strong>de</strong> e aconcepção instrumental <strong>do</strong>s Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sobrigan<strong>do</strong>-os da hercúlea tarefa<strong>de</strong> guardiães heróicos da agenda da Reforma Sanitária, para re<strong>de</strong>scobri-los comoexperiência social e inovação política relevante para a reforma <strong>de</strong>mocrática <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.ESTADO SELETIVO, DESENHO INSTITUCIONAL E INOVAÇÃO POLÍTICAA compreensão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> como arena ajuda a vislumbrar a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>interesses sociais vigentes e o caráter não monolítico <strong>do</strong> aparelho estatal, mas não elucidaa hierarquia <strong>de</strong> critérios que presi<strong>de</strong> a lógica da <strong>de</strong>cisão pública. Sabe-se que, mesmo nasituação <strong>de</strong>mocrática, o funcionamento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> está longe <strong>de</strong> lembrar uma auscultaplebiscitária entre atores sociais em situação. Nem o voto individual nas eleições gerais,nem a manifestação coletiva das representações corporativas têm peso simétrico na<strong>de</strong>finição das políticas públicas.Diversos autores têm contribuí<strong>do</strong> para enriquecer as teorias <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong>explicar seus mecanismos <strong>de</strong> funcionamento nos marcos das complexas relações sociaisdas socieda<strong>de</strong>s contemporâneas, em especial seus processos <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão.No campo da tradição marxista da não neutralida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> perante as relaçõessociais, e acolhen<strong>do</strong> aportes <strong>do</strong> neocorporativismo, o alemão Claus Offe (1984) propõeo conceito <strong>de</strong> “seletivida<strong>de</strong> estrutural” para <strong>de</strong>signar a incorporação <strong>de</strong>sigual das <strong>de</strong>mandassociais por parte <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Nesse mo<strong>de</strong>lo teórico, a seletivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>estaria expressa através <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> filtros ou sensores que, agin<strong>do</strong> no interior <strong>do</strong>aparelho estatal, teriam a função <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e classificar as <strong>de</strong>mandas ou inputs,segun<strong>do</strong> seu caráter mais ou menos compatível com a lógica <strong>do</strong>minante, selecionan<strong>do</strong>assim aquilo que <strong>de</strong>ve ou não ser objeto <strong>de</strong> políticas públicas. Segun<strong>do</strong> o autor, o sistema<strong>de</strong> filtros envolve a problematização das <strong>de</strong>mandas e a interposição <strong>de</strong> barreiras ao seuacolhimento nos níveis <strong>de</strong> estrutura (racionalida<strong>de</strong> estratégica), i<strong>de</strong>ologia (idéiascorrentes), processo (regras e procedimentos) e repressão.Da operação cumulativa <strong>de</strong>sses filtros é que resulta a formação da agenda pública,ou seja, o rol <strong>de</strong> temas e questões passíveis <strong>de</strong> articulação política e implementação <strong>de</strong>ações administrativas. Po<strong>de</strong> ser dito que, a cada momento, o Esta<strong>do</strong> é <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> umpadrão <strong>de</strong> seletivida<strong>de</strong> estrutural, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> um padrão <strong>de</strong> ajustamento <strong>de</strong> seusfiltros. O padrão <strong>de</strong> seletivida<strong>de</strong> vigente é que dá solução à disputa <strong>de</strong> interesses, mas épassível <strong>de</strong> alterações ou <strong>de</strong>slocamentos conforme evoluam essas disputas sociais. Essas98 SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>

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