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A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

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significativa <strong>do</strong>s padrões <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> renda naqueles municípios e, mesmo assim,houve modificação da mortalida<strong>de</strong> infantil e da incidência <strong>de</strong> pólio ou <strong>de</strong> sarampo.Parece reacionário admitir isto. Creio que mais conserva<strong>do</strong>ra ainda é a postura que serecusa a reconhecer os clamores <strong>do</strong> empírico. Ela torna-se empecilho para toda e qualquerreelaboração teórica, transforman<strong>do</strong> ferramentas <strong>de</strong> intervenção em <strong>do</strong>gmas imutáveise, portanto, inúteis na maioria das situações. Não reconhecer e não analisar evidênciasmata o espírito crítico e a criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inventar novas formas <strong>de</strong> intervenção.Ou seja, atuar nos <strong>de</strong>terminantes <strong>do</strong>s processos saú<strong>de</strong>-<strong>do</strong>ença é quase sempretarefa impossível. Mesmo porque estes <strong>de</strong>terminantes são múltiplos, embora não <strong>de</strong>peso equivalente. Não estou aqui concordan<strong>do</strong> com a teoria da multicausalida<strong>de</strong>. Apenaschamo atenção para um fato sociológico: há re<strong>de</strong>s e fluxos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação. A violência,por exemplo, seria <strong>de</strong>terminada por quais fatores? Trabalhar com a noção <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>sdiretas não nos ajudaria muito. A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social explicaria países violentos. Noentanto, haveria que se consi<strong>de</strong>rar também a cultura <strong>do</strong> machismo, ou o individualismoexacerba<strong>do</strong> que transforma to<strong>do</strong> ser humano em objeto, quan<strong>do</strong> o outro não valerianada e, portanto, qualquer ato violento seria banaliza<strong>do</strong>. Estas linhas <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminaçãose somam, se potencializam e seria inútil - como discutir o sexo <strong>do</strong>s anjos - brigar porqual <strong>de</strong>stes fatores seria o <strong>de</strong>terminante principal. Depois, no momento da intervenção,on<strong>de</strong> atuar? Em qualquer <strong>do</strong>s pontos da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação, em qualquer que fossepossível e necessário. Ao mesmo tempo, com múltiplos instrumentos.O controle da poliomielite, outro analisa<strong>do</strong>r. O fato da saú<strong>de</strong> pública brasileirahaver atua<strong>do</strong> numa linha secundária da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação da incidência <strong>de</strong> pólio,a imunida<strong>de</strong> humana, diminuiria o valor <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s que alcançamos? Na Europa, amelhoria das condições <strong>de</strong> salubrida<strong>de</strong> agiu antes que campanhas massivas <strong>de</strong> vacinação,e daí? Aqui, vacinamos compulsivamente enquanto continuávamos impotentes paramelhorar as condições <strong>de</strong> vida. E será que universalizar a vacinação não teria reflexossobre as noções <strong>de</strong> cidadania, ainda que um pouquinho? Ao introduzirmos um programa<strong>de</strong> reidratação oral - evitar mortes imediatas por diarréias - não se po<strong>de</strong>ria mobilizarpara a cidadania, junto, ao mesmo tempo, enquanto, especificamente, com recursoscaracterísticos da saú<strong>de</strong> pública mais tradicional, iríamos salvan<strong>do</strong> vidas?A medicina social, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua origem, insinuou a utopia <strong>de</strong> que a socieda<strong>de</strong> justaseria uma socieda<strong>de</strong> sem <strong>do</strong>enças. Assim, aconteceu com o pensamento sanitário darevolução francesa e da medicina social alemã ( Rosen, 1994). Depois, a epi<strong>de</strong>miologiasocial e a saú<strong>de</strong> coletiva revitalizaram esta tradição crítica mas simplifica<strong>do</strong>ra darealida<strong>de</strong>. Não que as reformas sociais e o bom governo não produzam saú<strong>de</strong>. Produzem,e há uma série <strong>de</strong> questões que somente se equacionariam com o <strong>de</strong>senvolvimento socialjusto e harmônico. E a saú<strong>de</strong> pública tem obrigação <strong>de</strong> revelar estas evidências. Oproblema estaria no concomitante borramento da importância específica <strong>do</strong>s serviços<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na produção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. E, em conseqüência, na superestimação <strong>de</strong> certas receitas- reformas sociais não eliminariam todas as <strong>do</strong>enças, apenas mudariam o perfil prevalente<strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s -; e, por para<strong>do</strong>xal que pareça, na subestimação da potência <strong>de</strong> algunstipos <strong>de</strong> intervenção. Refiro-me à prática clínica em geral, ou mesmo a alguns projetos<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública que não interfeririam diretamente com os <strong>de</strong>terminantes principais<strong>do</strong> processo saú<strong>de</strong>-<strong>do</strong>ença.Nos anos sessenta, setores mais puristas da saú<strong>de</strong> pública pregavam a revolução.Somente o povo organiza<strong>do</strong> autonomamente e enfrentan<strong>do</strong> o capitalismo produziriasaú<strong>de</strong>. Muito bem. Isto aju<strong>do</strong>u. Daí se <strong>de</strong>senvolveram as propostas <strong>do</strong>s movimentos118 SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>

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