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A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

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tais contradições foram vividas intensamente pelo movimento sanitário, e, talvez, portoda a socieda<strong>de</strong> brasileira, durante o processo <strong>de</strong> transição, caracterizan<strong>do</strong> diferentesconcepções e estratégias <strong>de</strong>mocráticas que po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>signar como <strong>de</strong>mocracia comoconflito, <strong>de</strong>mocracia como movimento e <strong>de</strong>mocracia como institucionalida<strong>de</strong> .A proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia com a qual se trabalhava nos anos 70 tinha um forteconteú<strong>do</strong> anárquico e contra-cultural, na medida em que se rebelava contra to<strong>do</strong> processo<strong>de</strong> normalização e institucionalização <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r, vistos como re<strong>de</strong> <strong>de</strong> macro e micropo<strong>de</strong>resque, por meio <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> práticas sociais, subordinavam a energiacria<strong>do</strong>ra e potencialmente revolucionária a uma or<strong>de</strong>m que reproduzia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua macroestruturaaté aos comportamentos e símbolos, a engrenagem da <strong>do</strong>minação. A <strong>de</strong>mocraciaera vista como comportan<strong>do</strong> um elemento social que se traduzia na proposta <strong>de</strong><strong>de</strong>salienação da população e sua consequente organização em direção a uma melhorapropriação da riqueza social. O mecanismo que permitiria esta passagem seria aparticipação popular, mística <strong>do</strong> <strong>de</strong>svendamento das estruturas da <strong>do</strong>minação e da criação<strong>de</strong> uma nova lógica <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, marca que po<strong>de</strong> serencontrada em situação tão paradigmática como foi o Projeto Montes Claros 5 .O conflito seria, pois, o caminho através <strong>do</strong> qual se po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>smontar as estruturas<strong>de</strong> <strong>do</strong>minação, ao mesmo tempo em que, ao assim proce<strong>de</strong>r, se estaria produzin<strong>do</strong>a <strong>de</strong>salienação <strong>do</strong> sujeito que se constitui por meio <strong>de</strong> sua participação. Apostulação <strong>do</strong> conflito como estratégia <strong>de</strong> redirecionamento das práticas sociais implicano reconhecimento das diferenças e na sua elaboração ao nível político, entran<strong>do</strong> emcontradição com toda perspectiva homogeneiza<strong>do</strong>ra, mesmo aquela que recorta arealidada<strong>de</strong> a partir <strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong> classista.Bastante influenciada pelo pensamento “foucaultiano” e <strong>de</strong> outros intelectuaiseuropeus vincula<strong>do</strong>s ao movimento contra-cultural, tal corrente vai progressivamenteper<strong>de</strong>n<strong>do</strong> vigor <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> movimento sanitário, restan<strong>do</strong> apenas sua influência nareforma psiquiátrica, para a qual a questão <strong>do</strong> resgate <strong>do</strong> sujeito é a essência mesma <strong>do</strong>movimento reforma<strong>do</strong>r.Uma perspectiva política <strong>de</strong> orientação mais “movimentista” se associa ao própriosurgimento e crescimento <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res e das Comunida<strong>de</strong>s Eclesiais<strong>de</strong> Base, orientada por uma perspectiva <strong>de</strong> mobilização da comunida<strong>de</strong> e socializaçãopolítica, viven<strong>do</strong>, no entanto, a contradição crescente entre tomar o Esta<strong>do</strong> como alvo<strong>de</strong> suas críticas e <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>mandas, ao mesmo tempo em que pretendia que sua <strong>luta</strong>pelo po<strong>de</strong>r se circunscresse ao âmbito societário. Não por acaso, esta contradição se<strong>de</strong>senvolve, algumas décadas <strong>de</strong>pois, com a forte presença <strong>do</strong>s governos municipais <strong>do</strong>Parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res sen<strong>do</strong> os principais implementa<strong>do</strong>res das reformasinstitucionais <strong>de</strong>mocratiza<strong>do</strong>ras, tanto na saú<strong>de</strong> como em outras áreas da gestão pública.A perspectiva <strong>de</strong>mocrática “institucionalista”, pre<strong>do</strong>minante a partir <strong>do</strong>s anos80, recorreu ao conceito estratégico <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da consciência sanitária comoforma <strong>de</strong> articulação <strong>de</strong> diferentes níveis, possibilita<strong>do</strong>s pela concomitância <strong>do</strong> corpobiológico com o corpo socialmente investi<strong>do</strong>; o corpo produtivo. A articulação se dariaentre a experiência singular <strong>do</strong> sofrimento, a vivência das necessida<strong>de</strong>s vitais, e adimensão pública <strong>do</strong> indivíduo enquanto cidadão, portanto, porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> um conjunto<strong>de</strong> direitos e <strong>de</strong>veres diante <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, e, sua inserção na <strong>luta</strong> entre <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s e<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>res, aos quais remetem tanto as carências vitais quanto a negação <strong>do</strong>s direitossociais. Em outros termos, assumin<strong>do</strong> o carater dual da saú<strong>de</strong>, como valor universal enúcleo subversivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smontagem da or<strong>de</strong>m social em direção à construção <strong>de</strong> umaSAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>27

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