12.07.2015 Views

A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Beecher, os abusos aconteciam quase que exclusivamente com sujeitos vulneráveis, taiscomo prisoneiros, pacientes, <strong>do</strong>entes mentais, solda<strong>do</strong>s ou minorias étnicas (como nocaso <strong>do</strong> “sangue mau”), infringin<strong>do</strong> portanto to<strong>do</strong>s os princípios prima facie da bioética:o princípio <strong>de</strong> autonomia, o da justiça, <strong>de</strong> beneficência, <strong>de</strong> não-maleficência e, sobretu<strong>do</strong>,o princípio <strong>do</strong> consentimento informa<strong>do</strong> que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Declaração <strong>de</strong> Nuremberg(1947), <strong>de</strong>veria regulamentar a pesquisa com seres humanos.É neste contexto <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias sobre os abusos em pesquisas com seres humanosque nasceu oficialmente a bioética, graças a um pesquisa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Madison, Wisconsin, ocancerologista Van Rensslaer Potter, que criou o neologismo “bioética” 19 .OS ASPECTOS TEÓRICOS DA BIOÉTICADo ponto <strong>de</strong> vista teórico (epistemológico e meto<strong>do</strong>lógico) po<strong>de</strong>-se dizer que, nestaprimeira fase, pre<strong>do</strong>minou inicialmente - e apesar da relevância assumida pelas questões“práticas” frente às “teóricas” <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à guinada pragmática em ética ocorrida nos anos60 - uma discussão sobre a pertinência semântica e o valor lógico da palavra “bioética”.A palavra foi questionada enquanto neologismo esteticamente “feio” e pragmaticamente“ambíguo”, ou seja, provi<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como contraditórios20 .Com efeito, para Potter (um <strong>do</strong>s “pais” funda<strong>do</strong>res da disciplina, junto com AndréHellegers) a bioética era um novo tipo <strong>de</strong> ciência, que aliava os da<strong>do</strong>s científicos com osvalores humanos, mais precisamente a “ciência da sobrevivência” 21 , simbolizada pelaimagem da “ponte para o futuro” 22 . Já para outros autores, como os pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong>Kennedy Institute da Georgetown University (inclusive Hellegers), a bioética era umadisciplina filosófica, não científica, apesar <strong>de</strong> ser “prática”, quer dizer, referida aosproblemas éticos levanta<strong>do</strong>s pela intervenção humana em campo biomédico.Des<strong>de</strong> o começo, temos, portanto, duas concepções aparentemente inconciliáveis<strong>de</strong> bioética: 1) a concepção <strong>de</strong> Potter, que vinculava duas formas <strong>de</strong> conhecimento que,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a distinção feita no final <strong>do</strong> século XIX por Wilhelm Dilthey, entre Ciências Naturaise Ciências <strong>do</strong> Espírito 23 , funda duas tradições disciplinares diferentes e legítimas, cadauma no seu campo <strong>de</strong> pertinência e <strong>de</strong> aplicação específico; 2) a concepção <strong>de</strong> Hellegersque a consi<strong>de</strong>rava como uma disciplina pertencente ao campo da filosofia, quer dizer,das Ciências <strong>do</strong> Espírito.Devi<strong>do</strong> a esta dupla origem (e duplo senti<strong>do</strong>) a bioética foi questionada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ocomeço, critican<strong>do</strong> o caráter “ambíguo e <strong>de</strong>snorteante” 24 ”<strong>do</strong> termo. Ambíguo porquereferi<strong>do</strong> seja a uma nova ciência seja a um novo âmbito da teoria moral; <strong>de</strong>snorteanteporque, ao apresentar-se como “nova” forma <strong>do</strong> discurso moral, a bioética pareceiapreten<strong>de</strong>r ser a nova forma “global” <strong>de</strong> eticida<strong>de</strong> na época <strong>de</strong> vigência da biotecnociênciaquan<strong>do</strong>, <strong>de</strong> fato, esta implicaria numa espécie <strong>de</strong> niilismo em que o paradigma da éticaseria, na melhor das hipóteses, uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> éticas particulares, sem umalinguagem moral comum, quan<strong>do</strong> não um mero paradigma perdi<strong>do</strong>, como preten<strong>de</strong> NiklasLuhmann 25 .De fato, este politeismo contemporâneo, sintetizável pela imagem da Torre <strong>de</strong>Babel, seria uma das características específicas e legítimas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> seculariza<strong>do</strong>, noSAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>231

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!