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A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

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emblemático é o relógio. O que diferencia o homem <strong>de</strong> toda outra matéria é a alma (rescogitans), cuja única função é o julgamento. Enquanto ser vivo, como to<strong>do</strong>s os outros, aspartes só têm senti<strong>do</strong> enquanto elementos <strong>do</strong> to<strong>do</strong>. Ou seja, sem integrar o mecanismopara o qual foi criada, a parte não tem nenhum senti<strong>do</strong> existencial. A experiência, todavia,não corrobora uma tal afirmação. Um músculo <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> <strong>do</strong> organismo, além <strong>de</strong> nãonecessariamente paralisar o to<strong>do</strong>, mantém por um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> tempo sua “vitalida<strong>de</strong>”,traduzida pela persistência <strong>do</strong> movimento contrátil que se segue a uma estimulação. Anoção <strong>de</strong> “irritabilida<strong>de</strong>” será, talvez, a primeira a marcar uma especificida<strong>de</strong> da vida,não só por referência à matéria bruta físico-química, mas também <strong>de</strong> uma sua concepçãomecânica. É verda<strong>de</strong>, como bem relembra Grmek, que a afirmação da “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>” <strong>do</strong>biológico resultará, também, em pensamentos algo exagera<strong>do</strong>s como o foram o animismo<strong>de</strong> Stahl (1660-1734) e o vitalismo <strong>de</strong> Barthez (1734-1806). Do ponto <strong>de</strong> vista material,após um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> marcada presença da idéia <strong>de</strong> “fibra” como elemento primário econstituinte <strong>do</strong> ser vivo, a “teoria celular”, com todas a dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formulação eaceitação - como bem o <strong>de</strong>monstrou Canguilhem, vai concretizan<strong>do</strong> o conceito <strong>de</strong>“organismo” como aquele explicativo <strong>do</strong> ser vivo.No que se refere à <strong>do</strong>ença, propriamente dita, um longo caminho foi tambémpercorri<strong>do</strong> e <strong>do</strong> qual se aponta aqui alguns poucos momentos que parecem mais significativos.A “teoria <strong>do</strong>s humores” começa a ser abalada, justamente, pela criação dabiologia e <strong>do</strong> objeto que lhe correspon<strong>de</strong>. É a aproximação <strong>do</strong> concreto material queforjará novas compreensões, inclusive a partir da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> incorreções. Aanatomia, já se viu, constitui-se em novida<strong>de</strong>, principalmente porque começa a serrealizada em cadáveres humanos. Vesálio se torna o campeão e o De Humani CorporisFabrica terá estatura semelhante ao De revolutionibus <strong>de</strong> Copérnico. Malpighi <strong>de</strong>screvecapilares pulmonares, Harvey a circulação sangüínea e Morgagni, já em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>século XVIII, inicia o esforço para relacionar lesões anatômicas com <strong>do</strong>enças em vidai<strong>de</strong>ntificadas. A materialida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo vai configuran<strong>do</strong> um novo objeto. Bichatnão terá dúvidas em atribuir à lesão orgânica o estatuto <strong>de</strong> “se<strong>de</strong>” e origem das <strong>do</strong>enças.A clínica, em um contexto <strong>de</strong> mudanças conturbadas como foram aquelas relacionadascom a Revolução Francesa, instituirá um novo espaço <strong>de</strong> sua atuação, buscan<strong>do</strong> no<strong>do</strong>ente hospitaliza<strong>do</strong> o máximo <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong>, para uma intervenção ainda muitopouco eficaz. Todavia, <strong>do</strong>is marcos espetaculares vão consolidar o novo objeto <strong>do</strong> saber(biológico e médico) a partir <strong>do</strong> qual novas proposições práticas vão mostrar suapositivida<strong>de</strong> em ritmo até então jamais visto. Trata-se da fisiologia e da bacteriologia. Aprimeira, construin<strong>do</strong> o conceito <strong>de</strong> “meio interno”, <strong>de</strong> “homeostáse”, conce<strong>de</strong> ao servivo uma importante “autonomia relativa” por referência ao mun<strong>do</strong>. O segun<strong>do</strong>, aocontrário, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> a sua vulnerabilida<strong>de</strong>, lançará as bases para procedimentosmédico- sanitários que, mais <strong>do</strong> que eficazes, mostrar-se-ão <strong>de</strong> uma efetivida<strong>de</strong> marcante.Não é <strong>de</strong> se estranhar, assim, que os novos saberes adquirin<strong>do</strong> prestígio crescente,passem a servir <strong>de</strong> paradigma para pensamentos que tomam outros objetos para seuconhecimento.MODO DE PENSARUm pequeno retorno no tempo, mas sob outro ângulo, po<strong>de</strong> ser interessante paraa compreensão <strong>de</strong> oscilações <strong>do</strong> pensamento e, também, <strong>de</strong> proposições técno-sociais.208 SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>

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