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A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

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SAÚDE COLETIVA: DA ONIPOTÊNCIA DO DISCURSO A UMAQUASE IMPOTÊNCIA DAS PRÁTICASEvidência 1Se o discurso da saú<strong>de</strong> coletiva tresanda onipotência; sua prática - afora programasmuito específicos, como os <strong>de</strong> vacinação ou <strong>de</strong> controle da mortalida<strong>de</strong> infantil - beira aimpotência inocente, sem culpa, já que os motivos da inoperância estariam localiza<strong>do</strong>sem outros sujeitos, ou em outras <strong>de</strong>terminações, sempre distantes da própria saú<strong>de</strong>pública.A prática - em Icapuí, Quixadá e Fortaleza, no Ceará; ou em Olinda em Pernambuco;ou em várias cida<strong>de</strong>s das regiões sul ou su<strong>de</strong>ste - <strong>de</strong>monstrou a eficácia <strong>de</strong> algunsprogramas com enfoque pontual. Demonstrou-se que a mortalida<strong>de</strong> infantil ligada a<strong>de</strong>snutrição, ou a diarréias, ou a enfermida<strong>de</strong>s previníveis por vacinação, é controlável.Graças à articulação <strong>de</strong> agentes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, intervenção na comunida<strong>de</strong>, atenção levadaaté os <strong>do</strong>micílios e pouquíssimos médicos - alguns <strong>de</strong> família, outros pediatras, ouepi<strong>de</strong>miologistas, ou sanitaristas - e vonta<strong>de</strong> política, e milagre: em <strong>do</strong>is ou três anos, eos índices atingem padrões mais condizentes com nossa noção <strong>de</strong> civilização. Quan<strong>do</strong> aestas iniciativas emergenciais se somam outras mais estruturais - habitação e saneamentobásico -, aí, então, os resulta<strong>do</strong>s são maravilhosos. Vários municípios conseguiram isto.Problema: ten<strong>do</strong> em vista o inegável sucesso <strong>de</strong>stes programas, vários intelectuaistêm transforma<strong>do</strong> estas linhas <strong>de</strong> trabalho no MODELO IDEAL. Não seria apenasuma alternativa para enfrentar <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas estaríamos dianteDO MODELO. Ações que <strong>de</strong>ram certo no enfrentamento <strong>de</strong> alguns eventos produtores<strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s são transformadas em receitas para to<strong>do</strong>s os processos.No entanto, o resulta<strong>do</strong> não tem si<strong>do</strong> o mesmo quan<strong>do</strong> os danos à saú<strong>de</strong> são<strong>de</strong>correntes da violência, por exemplo. Este estilo <strong>de</strong> programa po<strong>de</strong> pouco contra assassinatosem massa <strong>de</strong> jovens nas periferias das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s. Tampouco têm interferi<strong>do</strong>para valer na gravi<strong>de</strong>z precoce in<strong>de</strong>sejada, ou no ciclo da AIDS, ou em aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>trabalho, ou na ampliação da qualida<strong>de</strong> e da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos, ou emproblemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental. São fatores <strong>de</strong> risco e enfermida<strong>de</strong>s que exigiriam mo<strong>de</strong>losmais complexos, intervenções mais crônicas e mais amplas.O pensamento pre<strong>do</strong>minante na saú<strong>de</strong> coletiva, segun<strong>do</strong> minha percepção, temsimplifica<strong>do</strong> o processo saú<strong>de</strong>-enfermida<strong>de</strong>-atenção. E. Menen<strong>de</strong>z, perceben<strong>do</strong> estaslimitações, sugeriu agregar a dupla polarida<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>-<strong>do</strong>ença com que usualmente temostrabalha<strong>do</strong>, um terceiro fator - os mecanismos <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> -, sugerin<strong>do</strong> com isso que nãonos esquecêssemos, ao analisar estes processos, da interferência permanente e <strong>de</strong>liberadada socieda<strong>de</strong> e <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nesta dinâmica (Menen<strong>de</strong>z, 1985).Mas além <strong>de</strong>ste aspecto, praticaríamos ainda outras simplificações. Primeiro, aoa<strong>do</strong>tarmos conceito positivista e mecanicista <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação para os processos saú<strong>de</strong><strong>do</strong>ença-intervenção.Mesmo quan<strong>do</strong> a saú<strong>de</strong> coletiva atribui ao social a <strong>de</strong>terminaçãobásica, ela o faz cristalizan<strong>do</strong> esta linha <strong>de</strong> condicionamento. Ou seja, no fun<strong>do</strong>, faz-sea suposição <strong>de</strong> que somente por meio da eliminação <strong>de</strong> um fator que originou um perfil<strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>, se conseguiria modificar este perfil. O que não é verda<strong>de</strong>iro, felizmente.Os resulta<strong>do</strong>s sanitários acima indica<strong>do</strong>s confirmam esta crítica. Não houve mudançaSAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>117

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