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A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

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ambiente, sobre a qual não entraremos em matéria, pois cresce atualmente a tendênciaem consi<strong>de</strong>rar as questões morais relativas ao meio ambiente como não pertencentespropriamente à bioética mas sim à ética ambiental 43 . Outro aspecto importante <strong>de</strong>stafase “pública” é o fato <strong>de</strong> que a bioética é hoje praticamente um fenômeno cultural <strong>de</strong>dimensões mundiais, aca<strong>de</strong>micamente instalada em praticamente to<strong>do</strong>s os continentes,o que acentua o conflito entre as várias concepções morais vigentes. 44Nesta segunda fase, persistem obviamente os problemas morais coloca<strong>do</strong>s naprimeira fase (aborto, eutanásia, transplantes etc.), mas surgem <strong>de</strong> forma crescente novasquestões, social e politicamente relevantes. Quer dizer que, nos anos 90, a bioética passaa incorporar no seu <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> pertinência a dimensão da “ética pública”, encaran<strong>do</strong> o<strong>de</strong>safio <strong>de</strong> enfrentar os novos problemas sanitários concretos trazi<strong>do</strong>s tanto pela assimchamada “transição epi<strong>de</strong>miológica” no plano mundial (envelhecimento da populaçãoe prevalência das <strong>do</strong>enças crônico-<strong>de</strong>generativas) quanto pelos avanços da tecnociênciabiomédica (relevância assumida pela “medicina <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sejos”, aumento <strong>do</strong>s custossanitários).A transição epi<strong>de</strong>miológica constitui, na prática, uma combinação complexa econtraditória <strong>de</strong> novas e antigas <strong>do</strong>enças, isto é, <strong>de</strong> antigas <strong>do</strong>enças infecto-contagiosas(tornadas insensíveis aos tratamentos tradicionais, como a tubercolose), <strong>de</strong> novas <strong>do</strong>ençasinfecto-contagiosas emergentes (para as quais não existe ainda um tratamento eficaz,como a AIDS) e as emergentes <strong>do</strong>enças crônico-<strong>de</strong>generativas.Outro fator importante, nesta segunda fase da bioética, é o assim chama<strong>do</strong> processo<strong>de</strong> “globalização”, ou “mundialização”, que afeta a economia, a informação, o direito,as políticas sanitárias, as tecnologias, e que, em alguns casos, cria novas formas <strong>de</strong>exclusão entre países, e ao interior <strong>de</strong> um mesmo país ou região.Economicamente falan<strong>do</strong>, a “mundialização” representa a internacionalização<strong>de</strong> um sistema (liberal ou “neoliberal”) fascina<strong>do</strong> pelas “soluções” trazidas pelos merca<strong>do</strong>sfinanceiros; sob o ponto <strong>de</strong> vista social, consiste essencialmente no <strong>de</strong>smantelamento<strong>do</strong>s mecanismos prove<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> em <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s mais <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong>s.Dentro <strong>de</strong>sse contexto, assiste-se também ao fenômeno cultural que o diretor <strong>de</strong>Le Mon<strong>de</strong> Diplomatique, Ignacio Ramonet, acatan<strong>do</strong> uma sugestão <strong>de</strong> Jean-François Kahn 45 ,chama <strong>de</strong> “pensamento único” 46 , quer dizer, “um processo em que, sobre quase to<strong>do</strong>sos argumentos, (...) se constitui uma maneira correta <strong>de</strong> reagir, <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> dizer” 47 .Trata-se portanto <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> uma “nova or<strong>de</strong>m econômicocomunicativa”48 , que consiste em dizer e fazer praticamente as mesmas coisas, comoforma <strong>de</strong> pertencer ao círculo das “pessoas razoáveis”, fora <strong>do</strong> qual só é possível amarginalida<strong>de</strong>, pois “implícito ao pensamento único está a idéia <strong>de</strong> que, se você não ocompartilha, você é um louco ou um bárbaro” 49 . Mas a esta “mundialização” pelopensamento único e o liberalismo econômico não correspon<strong>de</strong> uma efetiva “globalização”,uma estrutura capaz <strong>de</strong> integrar realmente os cidadãos numa única comunida<strong>de</strong><strong>de</strong> interesses e <strong>de</strong> valores compartilha<strong>do</strong>s 50 .Este é o quadro muito geral em que se configura atualmente o espaço da bioética,e que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como uma nova forma <strong>de</strong> abordagem da ética pública ecomo instrumento <strong>de</strong> construção da cidadania.Assim sen<strong>do</strong>, torna-se indispensável a aplicação <strong>de</strong>ste enfoque no Brasil (e nos<strong>de</strong>mais países latinoamericanos), por uma série <strong>de</strong> razões que sintetizamos como cultura<strong>do</strong>s limítes, ou seja, a convicção cada vez mais compartilhada por especialistas ou não,234 SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>

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