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A luta do CEBES - Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI

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objeto <strong>de</strong> prática, para significar um ato também moral. Trata-se <strong>de</strong> uma ação técnicaque se funda e se realiza na <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> uma ética das relações intersubjetivas, nainteração médico-<strong>do</strong>ente (técnica moral-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte) 7 .Assim, a habilida<strong>de</strong> tecnológica <strong>do</strong> profissional envolve, neste caso, também, senãoprincipalmente, o “bom” uso da ética, expresso através <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>de</strong> comportarsediante <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente. Note-se que o senti<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong> aqui para este “mo<strong>do</strong> a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong><strong>de</strong> comportar-se” implica a interpessoalida<strong>de</strong> e ao mesmo tempo o correto a<strong>de</strong>stramentotécnico, por isso esta profissão não exigiria somente práticas peculiares, senão pessoaspeculiares, “homens <strong>de</strong> <strong>do</strong>m”. O <strong>do</strong>m ou a vocação pessoal <strong>de</strong> cada profissional tem si<strong>do</strong>sempre, até mesmo nos anos 90, lembra<strong>do</strong> como uma espécie <strong>de</strong> exigência da profissão.Esses qualificativos, que são pessoais e individuais e encontram-se mescla<strong>do</strong>s aosaber, recobrem o agir técnico. E o fazem porque contêm <strong>do</strong>is significa<strong>do</strong>s individualizáveis,embora combina<strong>do</strong>s: a habilida<strong>de</strong> (<strong>de</strong> técnica) e uma tendência natural para (ahabilida<strong>de</strong>).Esse duplo senti<strong>do</strong> resulta, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, da valorização da técnica na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>,expressan<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio da natureza pelo homem como parte <strong>do</strong>s valores <strong>do</strong> novo projetosocial (a socieda<strong>de</strong> industrial capitalista). Essa nova socieda<strong>de</strong> marca-se, pois, pelaconquista da gran<strong>de</strong> intervenção <strong>do</strong> homem sobre o mun<strong>do</strong> natural e sua capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> recriar o seu natural, uma “sobre-natureza”. De outro la<strong>do</strong> e ao mesmo tempo, essasconcepções se originam com a progressiva elaboração, por parte da elite <strong>do</strong>minante, <strong>de</strong>justificativas para os acontecimentos sociais, em especial a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> diferenças<strong>de</strong> classes são ancoradas na idéia <strong>de</strong> natural. Passariam, pois, as diferenças sociais a<strong>de</strong>correr <strong>de</strong> “causas individuais”, competências ou incompetências estritamente pessoais,diante <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s sociais “iguais”, idéia a que se reduz a <strong>de</strong>terminação socialdas ações e das situações <strong>de</strong> vida.Será através <strong>de</strong> to<strong>do</strong> esse conjunto <strong>de</strong> formulações que a noção <strong>de</strong> profissão cunhaa concepção <strong>de</strong> um agir no trabalho em saú<strong>de</strong>, e um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> prática, basea<strong>do</strong> especialmenteem seu agente ou em seu <strong>de</strong>sempenho pessoal. Eis porque o profissional não sei<strong>de</strong>ntifica a um trabalha<strong>do</strong>r, no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> que o agente seria apenas um <strong>do</strong>s componentes<strong>do</strong> processo <strong>de</strong> trabalho, mas, neste caso, seria quase o próprio processo inteiro. Portanto,tal como <strong>de</strong> princípio formulada e utilizada <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> hegemônico, até pelo menos osanos 50 <strong>de</strong>ste século, esta concepção <strong>de</strong> trabalho reduz o processo <strong>de</strong> intervenção quasetotalmente às dimensões <strong>do</strong> agente.O trabalho parece <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r ou ser <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>do</strong> pela vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong> indivíduo,sujeito particular e priva<strong>do</strong>. Este <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senvolver no <strong>de</strong>sempenho cotidiano virtu<strong>de</strong>s(produto <strong>de</strong> sua correta conduta moral), como, por exemplo, da “responsabilida<strong>de</strong> ehonra<strong>de</strong>z”. Por outro la<strong>do</strong>, se essas virtu<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser “aprendidas” no longotreinamento escolar, em razão <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> conhecimento que envolve (complexo e difícil,sobre pessoas), não po<strong>de</strong>m ser exercidas por coação institucional, governamental oucomercial. A complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong> saber envolvi<strong>do</strong> exigiria essa disposição pessoal, atéporque a prática é uma relação pessoal e direta <strong>do</strong> médico com o cliente 8 .7. Veja-se SCHRAIBER, L.B.- O médico e seu trabalho..., op. cit.8. Cf. FREIDSON, E. - Profession of Medicine - a Study of the Sociology of Applied Knowledge, Dodd,Mead and Company, Inc., New York,1970.290 SAÚDE E DEMOCRACIA - A LUTA DO <strong>CEBES</strong>

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