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mília: “Nós tínhamos perdido tudo na enchente de 83,<br />

por isso o vislumbre de poder ter terra numa região<br />

onde não há enchente, não há seca, não há geadas,<br />

para nós era o mesmo que entrar no paraíso”.<br />

Uma ilusão que durou pouco: já quando voltava à<br />

Amazônia, trazendo mulher e cinco filhos (ao todo,<br />

são catorze, diz a mulher, rindo), seu Ernesto foi surpreendido<br />

com a informação de que a terra que ocupava<br />

tinha dono e, portanto, não poderia ficar. “Foi<br />

um desconsolo” diz ele, quase desesperado. “Ficamos<br />

sem ter o que fazer aqui, a milhares de quilômetros de<br />

qualquer amigo”.<br />

O pior é que seu Ernesto havia investido todo o dinheiro<br />

que possuía, “em torno de 300 mil cruzeiros”,<br />

nos trabalhos em sua posse, além de uma parte dada<br />

ao antigo posseiro como sinal de compra de posse:<br />

“Caí no conto. Agora, não sei o que fazer. Estou trabalhando<br />

na terra dos outros, como empregado, até<br />

conseguir me ajeitar de novo”.<br />

De Santa Catarina, Ernesto e família dizem não querer<br />

nem saber como estão as coisas lá: “Nós vamos,<br />

nem que seja a 10.000 km de distância, em busca de<br />

novas chances, mas não voltamos. Aquilo lá não é<br />

vida pra gente bem”, afirma, lembrando as perdas na<br />

enchente de 1983. (MATO GROSSO S/A, p. 16)<br />

O dilema cotidiano da agricultura e da mineração<br />

revela cada vez mais que Alta Floresta vive direta<br />

ou indiretamente em função da extração do ouro nas<br />

dezenas de frentes de garimpo. O garimpo avança, enquanto<br />

a agricultura, que era o principal objetivo dos<br />

colonizadores pioneiros, sofreu as influências da crise<br />

nacional. Assim, em vez de cultivar os campos, os colonos<br />

venderam ou arrendaram suas terras e foram<br />

ARIOVALDO U. DE OLIVEIRA 113<br />

para o garimpo, em busca do enriquecimento fácil,<br />

que dificilmente se realizou, mas que continuou<br />

atraindo levas de interessados. Hoje, eles se reestruturam<br />

para conviver com a crise do garimpo.<br />

Dois projetos de colonização drenaram o maior<br />

fluxo de novos colonos em Alta Floresta: Paranaíta, a<br />

60 km – com pouco mais de 10.000 habitantes em<br />

2000, e Apiacás, mais distante, com 6.000.<br />

A contradição entre garimpo e colonização tem<br />

levado as empresas colonizadoras a caminhar na direção<br />

das mineradoras, que, aliás, já estavam em Alta<br />

Floresta.<br />

O grupo Ometto, depois de vender a Agropecuária<br />

Suiá-Missu, em São Félix do Araguaia, para o<br />

grupo multinacional Liquifarm, implantou, por meio<br />

da Agropecuária do Cachimbo, o projeto de colonização<br />

de Matupá, em área superior a 250.000 ha no extremo<br />

norte do Estado, no entroncamento da BR-163<br />

com a BR-080 – uma cidade no centro da antiga aldeia<br />

principal dos índios Panará. Boa parte do projeto foi<br />

arrasada pela exploração garimpeira. Junto com Peixoto<br />

Azevedo, a grande favela do garimpo que virou município<br />

(uma das maiores taxas de crescimento, 38%,<br />

na década de 1980), Matupá sofreu os efeitos da queda<br />

do preço internacional do ouro na década de 1990.<br />

A cidade ganhou projeção na imprensa nacional e internacional<br />

em função da barbárie que lá ocorreu, envolvendo<br />

linchamento de garimpeiros.<br />

A Colonizadora Líder implantou projetos que<br />

deram origem às cidades de Colíder e Nova Canaã.<br />

A empresa grilou terras da União e as vendeu aos colonos<br />

do Sul do país uma área três vezes maior do<br />

que possuía. Nada aconteceu aos proprietários, pois<br />

o Incra tomou para si a tarefa de regularizar a titula-

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