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A hostilidade dos atos da criação do Parque Na-<br />

cional da Amazônia não se resumiu ao colono assentado<br />

nas proximidades. Os maiores afetados foram<br />

antigas populações que habitavam aquelas terras antes<br />

da criação da reserva. Formalmente, esses moradores<br />

deveriam ser indenizados e relocados após a criação da<br />

Unidade em 1974.<br />

“Contra a força não há resistência: eu nunca fui<br />

homem de receber ordem duas vezes quando era pra<br />

tirar essa gente daqui.” Itaituba, fevereiro de 2005.<br />

Um funcionário aposentado 2 do IBDF lembrava, orgu-<br />

lhoso, os tempos de trabalho na expulsão dos moradores<br />

do Parque. Já estes últimos não se referiam com o<br />

mesmo sentimento ao episódio: a experiência de sujeição<br />

à intimidação e violência é protagonista comum<br />

dos discursos dos ex-moradores ao narrarem a imposição<br />

sofrida para que abandonassem não só a terra,<br />

mas todo um modo de vida. Comunidades inteiras<br />

foram removidas e poucas famílias foram indenizadas.<br />

A maioria das indenizações era de valor irrisório.<br />

Dona Suzana, ex-moradora de Mangueira, às margens<br />

do rio Tapajós, ainda hoje tem a máquina de costura<br />

que, com uma cama de casal, consumiu todo o valor<br />

da indenização (figura 11). O aposentado do IBDF explica:<br />

“Pagar indenização pra quem? Só se for pra<br />

Deus. Eles não tinham benfeitoria nenhuma, e viviam<br />

de tirar seringa que Deus plantava. Às vezes, a gente<br />

até ajudava, dizendo que eles tinham desmatado uma<br />

área maior, pra eles pegarem alguma coisa”. Ainda que<br />

com uma indenização razoável, o desrespeito seria<br />

muito grande. Seu Porcidônio Pereira, ao ser informado,<br />

em fevereiro de 2005, sobre seu direito à indenização<br />

pela expropriação que sofrera havia 25 anos, da localidade<br />

chamada Isfecho, correu interessado a saber<br />

MAURÍCIO TORRES E WILSEA FIGUEIREDO 355<br />

Dona Lausminda de Jesus. Nasceu na Maloquinha, hoje área<br />

desabitada no Parque Nacional da Amazônia. Mora na Vila<br />

Tapajós, entorno ao norte do Parque.<br />

FOTO: Maurício Torres<br />

Samuel, morador itinerante da ilha de Lorena, localizada no leito<br />

do rio Tapajós, em frente ao Parque Nacional da Amazônia. O<br />

lugar escolhido por Samuel para viver com sua mulher e filhos<br />

fica exatamente onde nasceu e foi retirado com a família após as<br />

expropriações.<br />

FOTO: Maurício Torres

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