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dução da “lógica da fronteira”. Não raro, pequenos<br />

agricultores sulistas que rumaram ao norte nos programas<br />

militares de colonização passaram, já na primeira<br />

geração, por um abalo de valores. O código de ética e<br />

respeito da cultura camponesa que trouxeram sofre<br />

corrosão perniciosa e começa a ser substituído pela<br />

“mentalidade da fronteira”, de violência, de intimidação,<br />

de exploração ilícita e predatória dos recursos naturais,<br />

de apropriação de terras a qualquer custo e por<br />

quaisquer meios. O filho do senhor citado anteriormente<br />

é hoje um grileiro de projeção considerável,<br />

protagonista de tentativas de golpes e fraudes para grilagem<br />

de terras públicas e exploração de madeira, envolvido<br />

com garimpo em terras indígenas (TI Baú) e<br />

absolutamente integrado às formas de controle e poder<br />

das quais seu pai fora vítima. O modo de atuação da<br />

fronteira é tão presente e ostensivo que acaba por se fixar<br />

como um certo parâmetro de “normalidade”.<br />

ATUAÇÃO DO PODER PÚBLICO:<br />

SEUS PESOS E MEDIDAS<br />

O sindicalista Aluízio, ou Alenquer, é integrante do<br />

Conselho Deliberativo das Associações dos Movimentos<br />

Sociais do Eixo da BR-163 e participou dos encontros,<br />

fóruns e audiências que discutiram o asfaltamento<br />

da rodovia. Serve como retrato da sociedade civil organizada<br />

quando se mostra otimista e ansioso por informação:<br />

acredita que a conclusão da rodovia trará melhoria<br />

às condições de vida para a região, porém cita<br />

preocupado o RIMA (Relatório de Impactos Ambientais)<br />

da obra, na constatação de que o asfaltamento tende<br />

a aumentar os conflitos pela terra. O sindicalista<br />

sabe quem são as vítimas desses conflitos. Sabe – e teme<br />

MAURÍCIO TORRES 291<br />

– o poder de fogo dos grileiros, sabe não ter a quem recorrer,<br />

e vê como solução a presença do Estado.<br />

Como foi dito, a colonização da região deu-se<br />

sob o sotaque anticomunista da ditadura. Reações da<br />

população à vida que lhes impunham eram imediatamente<br />

identificadas como perturbação da ordem pública<br />

e recebiam o devido tratamento. Os militares<br />

muitas vezes se fizeram representar pelo potentado do<br />

latifundiário local na empreitada de reprimir qualquer<br />

ameaça de manifestação popular. José de Souza Martins<br />

comenta como essa aliança se abateu sobre os trabalhadores<br />

e camponeses:<br />

[...] o poder pessoal do grande proprietário rural é<br />

ainda hoje um poder emblemático, um poder de vida<br />

e de morte, criou-se, assim, uma situação em que a<br />

exploração do trabalho ficava acentuada na dependência<br />

do arbítrio do fazendeiro ou de seus representantes.<br />

Na verdade, as instituições da justiça e da polícia<br />

foram severamente debilitadas, quando não se<br />

tornaram abertamente coniventes com a escravização<br />

de trabalhadores e com a expulsão de camponeses da<br />

terra, como é de tradição em muitas e remotas regiões<br />

do país. A grande propriedade sempre foi um enclave<br />

sujeito a critérios próprios de direito, embora legais;<br />

lugar do reino do arbítrio do senhor de terras, que<br />

se torna, por isso mesmo, ainda hoje, senhor de<br />

consciências e de pessoas. 44<br />

A relação da população e dos pequenos movimentos<br />

sociais com os fazendeiros, e com a polícia local,<br />

tanto a civil como a militar, é de medo. Da grande<br />

maioria da população das cidades do eixo da BR-163<br />

ouve-se que é à polícia que, muitas vezes, se delega o

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