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292 AMAZÔNIA REVELADA<br />

serviço de pistolagem. Os próprios membros da população<br />

que tentaram esboçar qualquer mobilização<br />

afirmam já terem sido alvo de ameaças dessa polícia.<br />

Muito se fala, também, da participação da Polícia Militar<br />

na grilagem de terras. Ela se encarregaria, a serviço<br />

dos grandes, da expulsão de posseiros e outros ocupantes<br />

de pequenas áreas.<br />

Além dessas acusações, que, apesar de conhecidas<br />

de todos, muitas vezes não foram provadas, há um vínculo<br />

comprometedor e promíscuo, relatado pessoalmente<br />

por policiais da região. Trata-se da tácita dependência<br />

da polícia aos fazendeiros da região. Desde o<br />

abastecimento de combustível da viatura à alimentação<br />

e moradia dos policiais, tudo depende dos “favores” dos<br />

vizinhos abonados. É inevitável e evidente que esse tipo<br />

de relação gere um comprometimento – entre a polícia<br />

e um setor específico da população – absolutamente incompatível<br />

com sua função. Um exemplo dessa promiscuidade:<br />

numa operação de fiscalização do Ibama<br />

de Itaituba a uma madeireira no Caracol, Trairão, a<br />

equipe que se deslocava de helicóptero, integrada por<br />

um fiscal do Ibama e um grupo de policiais militares de<br />

Minas Gerais, enfrentou um movimento de reação dos<br />

proprietários e funcionários de madeireiras e da própria<br />

população. O grupo foi cercado, num gesto de intimidação,<br />

para que abortasse a ação. A chegada da Polícia<br />

Militar local surpreendeu os oficiais que tripulavam o<br />

helicóptero (inclusive, um major) quando ela se pôs em<br />

posição de apoio aos manifestantes.<br />

O Ministério Público do Estado do Pará, comarca<br />

de Itaituba, sabe do fornecimento de combustível à<br />

polícia por grupos da região em troca da prioridade de<br />

rondas em determinadas áreas. No limite, o que ocorre<br />

é uma apropriação privada do serviço e do equipa-<br />

mento públicos. O promotor José Haroldo Carneiro<br />

Matos, dessa comarca, comenta que, quando ele próprio<br />

acompanha as diligências policiais, o registro de<br />

ocorrências é inúmeras vezes maior.<br />

Ações conjuntas do Ministério Público com outros<br />

órgãos na região apresentaram resultados marcadamente<br />

produtivos. Felício Pontes Jr., procurador da República<br />

no Pará, lembra um exemplo claro de medidas<br />

efetivas com resultados enfáticos. Em meados de 2002,<br />

ele participou do Pólo Institucional de Novo Progresso,<br />

implantado pela Procuradoria da República. No<br />

mesmo prédio, instalaram-se Incra, Ibama, Receita Federal,<br />

Polícia Federal e Ministério Público. A operação<br />

durou dois meses, mas ainda hoje se ouve a população<br />

da cidade comentar que foram os únicos dias de paz<br />

havidos no lugar. O procurador diz que “a atuação<br />

conjunta de vários órgãos, no mesmo espaço físico,<br />

inibe a corrupção” 45 . Mais de trezentas madeireiras foram<br />

então autuadas. Grande número delas usava “laranjas”.<br />

Chamou a atenção que a maioria dos laranjas<br />

vinha de Marília, interior de São Paulo. Pontes explicou<br />

o porquê: publicou-se num jornal de Marília um<br />

anúncio de emprego, as pessoas se apresentaram e preencheram<br />

cadastros para concorrer às vagas. De posse<br />

dos dados de tais cadastros – nome, RG, CPF etc. –, madeireiras<br />

foram abertas em nome dessas pessoas. Métodos<br />

parecidos são utilizados na grilagem de terras.<br />

O Pólo Institucional de Novo Progresso, apesar<br />

das insistentes solicitações da população, não pôde ser<br />

reativado e, ainda pior, foi sucedido por um quadro<br />

de enorme retrocesso. Em Novo Progresso, meados de<br />

2004, já nas operações de georreferenciamento promovidas<br />

pelo programa BR-163 Sustentável, o Incra<br />

instalou-se na sede do Sindicato dos Produtores Ru-

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