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362 AMAZÔNIA REVELADA<br />

humanidade, corporificado na preservação da área<br />

em questão (Idem).<br />

Sob o aspecto estritamente conservacionista,<br />

também não se primou pela eficiência. Em uma postura<br />

preconceituosa e tecnocrata, elegeu-se o saber científico<br />

como o único e apto a direcionar o rumo da<br />

Unidade de Conservação. Ignorou-se que populações<br />

com formas de uso de recursos como as que ocupavam<br />

o Parque podem aliar-se a planos de preservação<br />

ambiental, funcionando como fiscais constantes contra<br />

a degradação do meio, uma vez que dependem da<br />

integridade do ambiente para a própria sobrevivência.<br />

Assim, negou-se um meio a pessoas que, com fluência<br />

e vocação, o integravam. Assim, negou-se ao meio<br />

aqueles que, por essência e por necessidade, poderiam<br />

ser seus maiores defensores.<br />

XENOFOBIA CONSERVACIONISTA<br />

Certas correntes de biólogos e cientistas da conservação<br />

arrogaram-se senhoras do saber passível de gerenciar<br />

as políticas ambientais. Como nova versão do colonizador<br />

hegemônico, esses cientistas atribuem-se a<br />

decisão sobre o espaço, a vida e a morte das populações<br />

nativas. Em alguns casos, isso chega a extremos<br />

hilariantes: Daniel Janzen calculou que US$ 500 milhões<br />

seriam suficientes para “salvar virtualmente todos<br />

os problemas de conservação neotropicais” (JANZEN<br />

apud GUHA, 2000, nota 8). Para isso, obtém espaço no<br />

prestigiado periódico Conservation Biology, onde conclama<br />

estudantes e colegas a dedicar 20% de seu tempo<br />

e recursos financeiros para serem aplicados na conservação<br />

tropical (GUHA, 2000, nota 8). Janzen é claro<br />

em suas intenções: “Nós temos a semente e o conhecimento<br />

biológico: falta-nos o controle do terreno”<br />

(apud GUHA, 2000, p. 85). O que o biólogo entende<br />

por controle do terreno baseia-se na aquisição de<br />

grandes extensões de terras nos países tropicais do Terceiro<br />

Mundo para “‘acomodar pessoas em busca de<br />

solidão, assim como onças, antas e tartarugas do mar’.<br />

Essas pessoas em busca de solidão, provavelmente incluem<br />

biólogos, ecologistas profundos, mas não, presumivelmente,<br />

agricultores nativos, caçadores ou pescadores<br />

artesanais” (Ibid, nota 8). O Parque Nacional<br />

da Amazônia não contou com os investimentos desse<br />

pesquisador, mas suas idéias quanto a modelos de implantação<br />

de reservas, notadamente no tocante às populações,<br />

vitimam a reserva e sua gente. Se o molde<br />

para conceber o Parque foi importado, o barro era o<br />

que poderia haver de mais nacional e conseqüente de<br />

quinhentos anos de latifúndio.<br />

Simultaneamente à expulsão dos antigos habitantes<br />

e à imersão de toda a região na mais absoluta<br />

irregularidade fundiária, o grande capital comia o<br />

Parque pelas bordas. Seja pela invasão direta, seja indiretamente,<br />

em conseqüência da expropriação de<br />

posseiros e colonos de outras áreas, que migravam<br />

para dentro da reserva em busca de um lugar para viver<br />

(cf. Ariovaldo U. OLIVEIRA e Maurício TORRES,<br />

neste livro), o Parque sofria as depredações vindas de<br />

grandes grileiros e grupos econômicos. Enfim, enquanto<br />

se perseguia, a armas e dentes, o “tradicional”,<br />

fechavam-se os olhos, benevolentemente, ao grande<br />

que, em nome do “progresso”, apropriava-se do solo<br />

e do subsolo da Amazônia (OLIVEIRA, 1997 e neste volume).<br />

Face a isso, poder-se-ia, inclusive, questionar a<br />

quais outros interesses também convinha o discurso

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