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turo das novas gerações: a comida, os casamentos, os<br />

rituais e a força de ser A’úw˜e(Xavante). Se estiver tudo<br />

bem com RÓ continuaremos a ser A’úw˜e (Xavante). O<br />

caçador anda no RÓ e aprende a amá-lo. As mulheres<br />

aprendem a amá-lo porque o casamento depende do<br />

RÓ e porque também andam lá para pegar as frutas.<br />

Antigamente o RÓ era assim: havia a aldeia, em<br />

volta a roça, em volta as frutas, em volta a caça junto<br />

com os espíritos, em volta mais caça e mais caça sempre<br />

junto com os espíritos. Os espíritos ajudavam a<br />

descobrir os segredos que o RÓ escondia: onde estava<br />

a força do caçador, onde estava a caça, onde tinha cobra<br />

e outros segredos. Os caçadores iam pegar a caça<br />

mais longe da aldeia, assim os animais fugiam em direção<br />

à aldeia. Depois, os caçadores iam a outro lugar<br />

longe da aldeia. Assim, os filhotes iam crescendo sempre<br />

e esqueciam a tragédia da caçada. Mais longe que<br />

isto só estavam o céu e a outra aldeia onde moram os<br />

mortos. Mas hoje os rapazes não estão aprendendo a<br />

amar o RÓ, nunca andaram, caçaram, nem sabem cuidar<br />

dele, querem plantar arroz e soja. Hoje, as novas<br />

gerações querem comprar comida de fora, esqueceram<br />

que a comida vem do RÓ, não da cidade. As mulheres<br />

A’úw˜e (Xavante) continuam a amar o RÓ, sabem que<br />

só se ele existir poderão se casar e casar seus filhos e filhas.<br />

(Adão Top’tiro e Thiago Tseretsu, trad. Hipãridi<br />

Top’tiro apud ASSOCIAÇÃO XAVANTE WARÃ, 2000)<br />

ÁGUA: BEM DA NATUREZA, BEM DA VIDA<br />

O desmatamento extensivo é preocupante, com queimadas<br />

dentro das terras indígenas e seu entorno, que<br />

vêm destruindo o seu patrimônio natural, base material<br />

BERNADETE CASTRO OLIVEIRA 217<br />

de sua própria sobrevivência e a de seus descendentes.<br />

Como na agricultura comercial mecanizada e em<br />

larga escala se recorre freqüentemente ao uso de insumos<br />

químicos e agrotóxicos, técnicas adversas à agricultura<br />

das populações indígenas, inevitavelmente<br />

ocorrerá ameaça de poluição das nascentes ou das<br />

águas que correm nos vales.<br />

As aldeias normalmente se situam próximas aos<br />

rios e córregos e, como utilizam aquela água para o<br />

consumo e usos domésticos (banho, lavar roupa, utensílios<br />

etc.), haverá o risco de contaminações.<br />

A água, como os demais elementos da natureza,<br />

faz parte de um patrimônio cultural herdado e compartilhado<br />

pela comunidade.<br />

O conhecimento indígena sobre a natureza não<br />

está dissociado do mundo invisível dos espíritos, os<br />

quais desempenham nesse mundo importante papel<br />

quanto à sua preservação e reprodução social.<br />

Em várias etnografias, como CARRARA (1997) e<br />

GIACCARIA (1972), o uso da água aparece como aspecto<br />

fundamental para os A’úw˜e Xavante, como categoria<br />

do ambiente, da cultura e das relações sociais.<br />

A água é considerada para os A’úw˜e Xavante sob<br />

dois aspectos, com significados simbólicos: a dos rios,<br />

identificada com água corrente (água viva), representada<br />

pela palavra ö; e pela dos lagos, lagoas, identificada<br />

pela água parada (ou água morta), representada pela palavra<br />

u. Existem, portanto, os espíritos associados a esses<br />

ambientes, que são os seus donos, mantendo com a<br />

comunidade relações de aproximação ou afastamento.<br />

Os donos da água viva dos rios são os Ötedewa,<br />

que cumprem um papel na orientação dos adolescentes,<br />

alertando contra os perigos dos rios, a cura para certas<br />

doenças, controlam peixes e jacarés, mostrando-se

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