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foram para o entorno da unidade, na margem direita<br />

do Tapajós, ou povoados próximos (Pimental, São<br />

Luís do Tapajós, Vila Tapajós, periferia de Itaituba<br />

etc.), e se reestruturaram sob outro paradigma de relação<br />

com o meio.<br />

Em entrevistas4 com antigas famílias do Parque,<br />

hoje residentes no perímetro urbano de Itaituba ou na<br />

comunidade Pimental (Itaituba), percebeu-se o quanto<br />

a expulsão alterou-lhes o modo de vida e, conseqüentemente,<br />

sua relação com o meio. Foram comuns<br />

à fala de todos a desestruturação da vida, as dificuldades<br />

de adaptação às cidades e, principalmente, à educação<br />

dos filhos. Aqueles residentes na comunidade<br />

Pimental, à margem direita do rio Tapajós, ainda<br />

mantinham alguma atividade ligada à terra, porém,<br />

agora, baseada na exploração ilícita de recursos do<br />

Parque: retirada de madeira a serviço de serrarias locais;<br />

captura de peixes ornamentais e arraias, sempre<br />

sob encomendas prévias; extração de palmito de forma<br />

predatória e indiscriminada etc. A exclusão dos<br />

moradores da unidade de conservação gerou uma séria<br />

situação conflituosa, resultando em hostilizações à<br />

reserva e à sua administração, chegando sempre à depredação<br />

do meio ambiente. Esse efeito não é particularidade<br />

do Parque Nacional da Amazônia. ARRUDA<br />

(2000) aponta-o como uma conseqüência relativamente<br />

comum a todas as iniciativas de implantação,<br />

no Terceiro Mundo, desse modelo de área de proteção.<br />

Para o autor, as populações atingidas<br />

muitas vezes promovem maior degradação ambiental.<br />

Em muitos países do Terceiro Mundo tem crescido o<br />

nível de destruição florestal, à medida que a população<br />

expulsa passa a ocupar e derrubar novas áreas para<br />

MAURÍCIO TORRES E WILSEA FIGUEIREDO 361<br />

moradia. [...] Muitas vezes, passam a encarar os recursos<br />

naturais da área como perdidos para sua comunidade.<br />

Em função disso, pouco fazem em prol do manejo<br />

da Unidade de Conservação, desenvolvendo<br />

muitas vezes práticas clandestinas de superexploração<br />

no interior da própria área. (p. 280s)<br />

Imagine-se a situação de famílias que nasceram e<br />

viveram, por gerações, naquele local, que lá tinham<br />

suas vidas – e também seus mortos: após a criação da<br />

Unidade de Conservação foram relegadas, da noite<br />

para o dia, a uma situação de irregularidade. Suas formas<br />

de explorar os recursos naturais e assegurar a própria<br />

reprodução sociocultural são criminalizadas.<br />

ARRUDA, ao falar da relação entre os modelos de unidades<br />

de conservação e as populações locais, comenta:<br />

Quando as populações resistem e permanecem, suas<br />

necessidades de exploração dos recursos naturais inerentes<br />

a seu modo de vida e sobrevivência raramente<br />

são reconhecidas. Em vez disso, passa a ocorrer uma<br />

“criminalização” dos atos mais corriqueiros e fundamentais<br />

para a reprodução sociocultural destas comunidades.<br />

A caça, a pesca, a utilização de recursos da<br />

floresta para a manufatura de utensílios e equipamentos<br />

diversos, a feitura das roças, a criação de galinhas<br />

ou porcos, o papagaio na varanda, a lenha pra cozinhar<br />

e aquecer, a construção de uma nova casa para o<br />

filho que se casou etc., tudo isso é, de uma penada jurídica,<br />

transformado em crime e seus praticantes perseguidos<br />

e penalizados. Ao mesmo tempo, são instados<br />

a proteger e respeitar o meio ambiente, sendo encarados<br />

como os principais responsáveis (não o modelo<br />

urbano-industrial em expansão) pelo futuro da

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