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vê algumas luzes fracas de um dos lados do km 680<br />

da BR-163. As luzes parecem distantes. De dia é uma<br />

cidade pequena, com casas de madeira nascendo no<br />

meio do mato, ruas carregadas de poeira ou lama,<br />

conforme a estação, muitos homens de chapéu nas<br />

ruas. Possui algumas características exclusivas das cidades<br />

de colonização recente do cerrado ou da Amazônia.<br />

O grande número de novas construções revela<br />

uma atividade febril. São os sulistas, com seus cabelos<br />

loiros. Mas não é só progresso que a paisagem<br />

esconde. Por trás do cenário é possível desvendar<br />

uma história de medo, corrupção, politicagem e falcatruas.<br />

Em 1985, Lucas do Rio Verde foi elevada à<br />

condição de distrito de Diamantino (médio norte de<br />

Mato Grosso). Agora se prepara para virar município:<br />

são cerca de 3.000 km2 colonizados por agricultores<br />

sem-terra, parceleiros, posseiros, grandes fazendeiros,<br />

comerciantes de terras públicas, pequenos e<br />

médios comerciantes, políticos conhecidos e desconhecidos,<br />

policiais violentos, funcionários do Incra,<br />

padres. Uma população dividida em facções que se<br />

odeiam mutuamente. De qualquer maneira, é um<br />

bom exemplo de como nasce uma cidade no Centro-<br />

Oeste brasileiro. Tudo começou em 1979, quando 26<br />

posseiros resolveram ocupar a região. As dificuldades<br />

de transporte seriam compensadas pela grande quantidade<br />

de terras disponíveis, calculavam eles. Naquela<br />

época, a BR-163, rodovia Cuiabá-Santarém, não<br />

passava de um sonho, pois, durante o tempo das<br />

águas, o médio norte e o norte de Mato Grosso ficavam<br />

praticamente isolados. Próximos à área que depois<br />

foi destinada ao projeto do Incra já existiam<br />

grandes latifúndios, alguns de propriedade de nobres<br />

europeus. A Cooperlucas – Cooperativa Lucas do<br />

ARIOVALDO U. DE OLIVEIRA 121<br />

Rio Verde, por exemplo, recentemente adquiriu uma<br />

fazenda de um nobre alemão. Essas fazendas, como<br />

se verá adiante, cumpriram importante papel na história<br />

de Lucas. Nelas, os parceleiros pobres encontravam<br />

a possibilidade de pelo menos não morrer de<br />

fome. Irineu Antônio Piveta foi um dos primeiros a<br />

chegar. Veio com cinco irmãos de Faxinal do Soturno,<br />

Rio Grande do Sul. A primeira posse dos Piveta<br />

era de 1.600 ha. Como a terra do cerrado é muito<br />

ácida e exige investimento alto em correção do solo,<br />

além do desmate, enleiramento etc., eles resolveram<br />

trocar esta por uma posse menor. Atualmente possuem<br />

600 ha que estão em nome de um dos irmãos.<br />

Esta propriedade corresponde a três lotes individuais<br />

do Incra, que os Piveta compraram de parceleiros<br />

que no começo de 1982 foram assentados no projeto<br />

Lucas do Rio Verde. O negócio que fizeram é ilegal.<br />

As terras de projetos do Incra não podem ser comercializadas<br />

livremente. Sobre elas incide uma “cláusula<br />

resolutiva”, que determina que a terra não pode ser<br />

vendida durante cinco anos após a data de registro<br />

no cartório imobiliário. A lei é clara e o seu descumprimento<br />

também. Um comerciante chamado Derbi,<br />

que está levantando uma lanchonete em Lucas,<br />

disse: “Aqui, nesta cidade, tudo é frio. Esta é uma cidade<br />

fria. Ninguém tem documento de nada. Eu não<br />

tenho também”. É verdade. “Se fôssemos aplicar a lei<br />

com rigor, toda a cidade iria parar na cadeia”, constata,<br />

desconsolado, um funcionário do Incra. Enquanto<br />

a lei não é aplicada continuam as negociatas<br />

com as terras públicas. E são tão evidentes que em<br />

Lucas do Rio Verde funcionam algumas imobiliárias,<br />

que compram e vendem terras. O Incra, que é a maior<br />

autoridade em Lucas, tolera a existência das imo-

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