08.06.2013 Views

amazonia%20revelada

amazonia%20revelada

amazonia%20revelada

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

296 AMAZÔNIA REVELADA<br />

Talvez o peso de 15.000 bois gordos dispense<br />

qualquer título e, aos olhos da polícia local, fixe o diferencial<br />

entre o “fazendeiro proprietário” (que se<br />

apossou de terras públicas) e os dezenove trabalhadores<br />

sem terra.<br />

DE MARCOS E MARCAS, CERCAS E CERCOS<br />

Como afirma Ariovaldo Umbelino de Oliveira, a quase<br />

totalidade das terras no entorno da BR-163, no Estado<br />

do Pará, é da União. Praticamente todas as ocupações<br />

são irregulares. Até mesmo os assentamentos,<br />

alguns com mais de trinta anos, permanecem sem titulação.<br />

Edna Ramos et alii comentam o fato: “Analisando<br />

fatores como a situação fundiária da região de<br />

fronteira, observa-se que os esforços do Estado em<br />

apoiar os assentamentos de colonização dirigida nunca<br />

foram acompanhados da conseqüente regularização<br />

fundiária. Mesmo trabalhando por trinta anos nessas<br />

terras, os colonos continuam nas ‘terras da União’.<br />

Com a nova onda de ocupação das terras que incide<br />

sobre essas áreas, percebe-se que os grandes proprietários<br />

que procuram adquirir essas terras é que estariam<br />

predestinados a possuí-las, dentro da política oficial e<br />

não oficializada”. 50<br />

Pode-se dizer que a atuação do poder público no<br />

combate à grilagem (e às suas conseqüências imediatas,<br />

como trabalho escravo e desmatamento) foi praticamente<br />

nula. Os fazendeiros da região valem-se da<br />

conivência das autoridades locais – prefeitos, policiais<br />

– e vários contam com o reforço de pistoleiros. Além<br />

disso, muitos usaram de influência junto a políticos<br />

estaduais e federais, o que os mantém impunes. Já em<br />

novembro de 2003, jornais da região anunciavam que:<br />

“Órgãos ligados aos direitos humanos e à problemática<br />

fundiária alertam que a situação está no limite do<br />

suportável. Os colonos, ameaçados por grileiros sojeiros<br />

e madeireiros, ameaçam ir às armas e partir para<br />

um confronto armado. Cansados de esperar uma ação<br />

efetiva do Estado, eles sentem a necessidade de defenderem<br />

o direito à terra”. 51<br />

O domínio privado da terra é a grande “mercadoria”<br />

local. É esse o meio para obtenção de poder<br />

econômico e político. Poder sobre a vida – e sobre a<br />

morte – dos que dependem dela.<br />

Pedro Gomes, morador do Projeto de Assentamento<br />

(Parque) Areia, em Trairão, aos 69 anos é um<br />

exemplo vivo disso52 . Nasceu em um seringal onde<br />

hoje está instalada a “fazenda” Passabem. Seu pai e<br />

também seu avô nasceram no mesmo lugar. Eram seringueiros<br />

e caçadores. Há cerca de quarenta anos,<br />

conta ele, começaram os problemas: “Chegaram. Puseram<br />

os marcos de cimento. Disseram que a terra era<br />

deles”. Intimidado, Pedro Gomes se muda para perto<br />

da cabeceira do rio Branco, na sua margem direita.<br />

Começa do zero. Planta novo seringal e dele vive mais<br />

vinte anos, até que a antiga cena se repete. Voltam:<br />

marcos de cimento, “guaxebas” 53 , ameaças... donos.<br />

Nova expulsão. Pedro já não é jovem, mas procura outro<br />

recomeço. Essa busca é mais difícil. Toda terra,<br />

agora, tem dono e ele aceita a “benevolência” da madeireira<br />

J.B. de Lima (instalada, polemicamente, dentro<br />

do Areia, um assentamento do Incra). A empresa<br />

se autoproclama dona das terras e permite a Pedro<br />

ocupar um certo pedaço. Essa estada é mais curta:<br />

nova expropriação, agora quem vem é o Incra. A área<br />

que Pedro ocupava não estava em conformidade com<br />

os parâmetros do assentamento que se instalava ali. O

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!