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Há poucos dias, um dos posseiros denunciou que o<br />

bando armado havia torturado trabalhadores na frente<br />

de suas esposas e filhos. A reportagem teve acesso a<br />

um laudo pericial feito a pedido da polícia no hospital<br />

de Novo Progresso, que confirma a tortura sofrida<br />

por um dos agricultores, que levou coronhadas na cabeça,<br />

golpes de facão e pauladas. O agricultor não<br />

quis mais retornar à sua terra. Sua casa ainda foi incendiada<br />

e os animais foram mortos... 54<br />

A baixa qualidade dos solos colabora com o perfil<br />

essencialmente especulativo da região. Mesmo os<br />

grupos locais que tomam grandes porções de terra são,<br />

na maior parte das vezes, capitalizados no garimpo e<br />

sem específica inclinação à terra que não a especulação,<br />

de modo que a única mão-de-obra empregada<br />

acaba por ser a dos pistoleiros que asseguram a posse<br />

do lugar. Isso, aparentemente, dispensa – nesse caso<br />

particular – a presença do colono e dos demais trabalhadores<br />

rurais no processo.<br />

O reflexo de tal situação está colado nas paredes<br />

de entrada do Sindicato de Trabalhadores Rurais<br />

de Castelo dos Sonhos: uma extensa relação de nomes<br />

sob o título “Espera por terra”. É resultado de<br />

uma visita do Incra, há oito anos, prometendo reforma<br />

agrária.<br />

É curioso notar que os garimpeiros da região são,<br />

simultaneamente, filiados ao sindicato dos garimpeiros<br />

de Peixoto de Azevedo, em Mato Grosso, e ao Sindicato<br />

de Trabalhadores Rurais, em Castelo dos Sonhos.<br />

Esse fato pode ser entendido como forte indicativo<br />

da transitoriedade da condição de garimpeiros,<br />

que agora reivindicam a volta à terra, um retorno à<br />

condição de camponeses.<br />

MAURÍCIO TORRES 299<br />

A expropriação de colonos é pouco perceptível<br />

no pequeno perímetro urbano, não se vê, como em<br />

vários outros locais, um crescimento desordenado<br />

da periferia. Mas isso não pode ser tomado como indicativo<br />

do que se passa no campo. Paradoxalmente,<br />

numa região de terras da União, Castelo dos Sonhos<br />

tem o crescimento da área urbana cerceado<br />

pela ocupação ilícita da terra por um ínfimo número<br />

de pessoas, o que dispensa o estabelecimento de<br />

novos bairros.<br />

NOVO PROGRESSO – Quase em sua totalidade,<br />

Novo Progresso é ocupado por grupos locais. O mercado<br />

é aquecido e comercializa-se a preços que vão<br />

de 1.500 reais/alqueire (2.400 m2 ) nas margens da rodovia<br />

a 20 reais/alqueire para terras mais distantes e<br />

sem acesso.<br />

Boatos de que com o asfaltamento seriam realizados<br />

novos assentamentos desencadearam uma acelerada<br />

“corrida à terra” em todo o entorno da BR-163 no<br />

Estado do Pará. O mercado de terras se aquece e com<br />

ele os escritórios que prometem a regularização da documentação<br />

das terras.<br />

Os inúmeros prestadores de serviço para “regularização<br />

fundiária”, longe de serem rústicos e desinformados,<br />

contam com boa infra-estrutura e equipamentos,<br />

como aparelhos e técnicos operadores de<br />

GPS, trabalham com imagens de satélite as mais atualizadas<br />

e aviões para sobrevôos e reconhecimento<br />

das áreas. 55<br />

A pecuária extensiva é a principal atividade e,<br />

pela sua dinâmica própria, age ao lado das madeireiras<br />

na vanguarda da expropriação de pequenos grupos<br />

locais.

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