08.06.2013 Views

amazonia%20revelada

amazonia%20revelada

amazonia%20revelada

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

comunidades contem, por exemplo, com estradas<br />

para escoar o pequeno excedente de sua produção de<br />

subsistência, elas irão aumentar seus plantios e, com<br />

isso, degradar a área.<br />

A diretoria do Parque procede absolutamente<br />

dentro da lei: atividades agrícolas, caça, pesca, estradas<br />

e a própria habitação dentro de parques nacionais<br />

são proibidas pelo Sistema Nacional de unidades<br />

de conservação (SNUC). Dos métodos pelos quais<br />

sempre se efetivou esse controle, porém, como dissemos,<br />

não se pode perceber a mesma legalidade. É voz<br />

uníssona entre os comunitários o relato de abusos<br />

sofridos por ocasião das incursões de fiscalização do<br />

Ibama. Segundo moradores de várias comunidades,<br />

foram freqüentes as invasões de domicílio (para procura<br />

de armas de caça), ameaças e outras hostilidades<br />

– chegam ao absurdo de furar as panelas das famílias,<br />

supondo que, sem ter onde cozinhar, elas não mais<br />

caçariam.<br />

Deixando de lado a truculência e os critérios de<br />

legalidade do histórico das ações da fiscalização, podese<br />

dizer que essa estratégia é, no mínimo, infantil.<br />

Ora, como já dito, é padrão no caso dos comunitários<br />

do interior da reserva um histórico de luta por<br />

acesso à terra. Se hoje vivem dentro do Parque Nacional<br />

da Amazônia não é por preferirem o status de moradores<br />

de uma unidade de conservação de proteção<br />

integral, mas, sim, por não haver possibilidade de<br />

acesso à terra em outro local. Na imensidão de terras<br />

da Amazônia, por incrível que pareça, não há lugar<br />

para viver. A absurda crença nas restrições impostas<br />

como motivadoras da evasão do Parque não considera<br />

a real situação de a questão não ser de “preferência”,<br />

mas de possibilidade. A chefia do escritório do Ibama<br />

MAURÍCIO TORRES E WILSEA FIGUEIREDO 373<br />

de Itaituba começa a se sensibilizar a respeito. Porém,<br />

atados à legislação e à falta de políticas adequadas,<br />

desdobram-se tentando agir numa tênue linha premida<br />

entre essa realidade e a prevaricação.<br />

Os comunitários do interior da reserva acabaram<br />

transformados em bodes expiatórios da ameaça ambiental,<br />

ao passo que os efetivos agressores do Parque,<br />

grileiros, madeireiros, políticos promiscuamente ligados<br />

a grupos econômicos, são ignorados. A soma do<br />

desmatamento de todas as comunidades nos últimos<br />

vinte anos é proporcionalmente ínfima se comparada<br />

aos números de uma única derrubada de Walmir Climaco,<br />

candidato derrotado à prefeitura de Itaituba<br />

pelo PMDB nas últimas eleições (2004), dono de um<br />

conglomerado de empresas que inclui madeireira, fazendas<br />

e a sucursal da TV Liberal (afiliada da Rede Globo)<br />

em Itaituba. Climaco, em agosto de 2004, fora<br />

multado em R$ 1,2 milhão por ter desmatado ilegalmente<br />

746 hectares no Parque Nacional da Amazônia6 .<br />

Se, de um lado, o Ibama e outras entidades interessadas<br />

na conservação do Parque vêm percebendo a<br />

contraprodutividade de olhar seus atuais moradores<br />

como inimigos e perdê-los como valorosos aliados, de<br />

outro acenam com gestos que remontam constrangedoramente<br />

às políticas socioexcludentes da Operação<br />

Amazônia ao, diretamente ou não, participarem da<br />

elaboração de publicações que vão de encontro às metas<br />

que promulgam.<br />

Materiais de divulgação sobre o Parque, pelas<br />

mais diversas formas e veículos, sempre de dispendioso<br />

acabamento e impressão gráfica, repetem e reproduzem<br />

a mesma desinformação. Em tom de deslumbre,<br />

mostra-se a magnânima natureza, as maravilhas<br />

da Amazônia; em tom curioso, incorre-se pela dife-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!