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370 AMAZÔNIA REVELADA<br />

des públicas de gestão de unidades de conservação sempre<br />

foi traço comum a todo o país. Funcionários e administradores<br />

de parques mantêm uma relação de domínio<br />

sobre o espaço protegido e, conseqüentemente,<br />

sobre as pessoas que ali vivem – uma autêntica atitude<br />

de “senhores feudais” (DIEGUES, 2000). Os antigos moradores<br />

do Parque Nacional da Amazônia são unânimes<br />

ao relatar as intimidações e restrições sofridas após<br />

a criação da reserva. Rinaldo Arruda comenta:<br />

A política ambiental vigente, por outro lado, tenta se<br />

viabilizar por uma postura autoritária totalmente dependente<br />

de fiscalização repressiva, carecendo de embasamento<br />

técnico-científico e legitimidade social entre<br />

a população regional, fadada, na melhor das hipóteses,<br />

a uma preservação ao estilo “jardim zoológico”,<br />

resguardando apenas algumas áreas intocáveis, num<br />

recorte insuficiente para a reprodução integral dos<br />

ecossistemas, para a manutenção da biodiversidade e<br />

da pluralidade cultural.<br />

As populações tradicionais são discriminadas por sua<br />

identidade sociocultural e impedidas de reproduzir<br />

seu modo de vida tanto pelo modelo de ocupação predatório<br />

que se expande como pelo modelo de conservação<br />

ambiental vigente. Assim, paradoxalmente acabam<br />

por desenvolver uma postura anticonservacionista,<br />

identificando o ambientalismo como o substituto<br />

dos antigos grileiros e passando a desenvolver<br />

práticas predatórias do meio ambiente como único<br />

meio de garantir sua subsistência e não cair na marginalidade<br />

ou na indigência. (ARRUDA, 2000, p. 287s)<br />

A grande maioria das pessoas que hoje habitam<br />

o Parque tem um largo currículo de expropriações da<br />

terra. A epopéia de um antigo morador da reserva é<br />

ilustrativa. Em meados da década de 1970, deixa o<br />

Maranhão após a chegada do “dono” do lugar onde<br />

vivia havia gerações. Intimidado, tenta o garimpo:<br />

dois anos e cinco malárias... não é garimpeiro, é um<br />

camponês. Sai à procura de um pedaço de chão, pára<br />

em Altamira. Três anos e nova chegada de um outro<br />

“dono”, com papéis na mão. Tenta Marabá, cinco<br />

anos, volta para Itaituba, quatro anos. Dessa vez vende<br />

a terra que ocupa, numa forma bastante comum de<br />

conseguir um dinheiro de giro, e tenta Santarém, daí<br />

para Novo Progresso, Castelo dos Sonhos, Moraes de<br />

Almeida, Trairão, novamente Novo Progresso e, de<br />

volta a Itaituba, compra um lote, há seis anos, em<br />

uma comunidade dentro do Parque Nacional da<br />

Amazônia. Agora, pela primeira vez, não se sente<br />

ameaçado pelo “fazendeiro vizinho”, é o Ibama que o<br />

avisa que terá de sair – e sem direito a nada.<br />

É de uma ingenuidade sem tamanho crer na eficiência<br />

da fiscalização como garantia da conservação<br />

ambiental. A sucateada base do Ibama de Itaituba<br />

contava, em janeiro de 2005, com apenas um veículo<br />

e dois fiscais para cobrir, muito mais do que os<br />

994.000 hectares do Parque, a imensa totalidade das<br />

áreas dos municípios de Itaituba, Trairão, Jacareacanga,<br />

Aveiros, Placas e Rurópolis. Porém, mesmo que<br />

contassem com bom equipamento só no caso da vigilância<br />

do Parque, dificilmente deteriam madeireiros e<br />

grileiros e as demais espoliações.<br />

Por outro lado, é intrínseco às comunidades o<br />

controle territorial. A comunidade de Nova Conquista,<br />

por exemplo, situada na parte central do arco, teve<br />

maior sucesso ao frear o avanço das pastagens do latifúndio<br />

vizinho do que qualquer ação de fiscalização. O

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