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384 AMAZÔNIA REVELADA<br />

tado para tirar da região seus verdadeiros donos e promover<br />

a instalação de grandes grupos econômicos nacionais<br />

e internacionais. A implantação de reservas de<br />

uso indireto era recomendada essencialmente, pela<br />

IUCN, para áreas desabitadas (ver X Assembléia Geral<br />

da IUCN, 1969, Nova Delhi, apud DIEGUES, 2001).<br />

Ainda assim, no Brasil, cinco anos depois, isso continuava<br />

não sendo aceito. A decretação da reserva de<br />

proteção integral sobre terra habitada não era por desconhecimento<br />

da existência de pessoas na região; mas,<br />

antes, integrava a estratégia de propagar a Amazônia<br />

como “a terra sem gente”, “o imenso vazio demográfico”,<br />

o lugar “onde só existiam matas. E lendas. O<br />

mito e o medo.” (Anúncio da construtora Queiroz<br />

Galvão, responsável pela construção do trecho Altamira-Itaituba<br />

da rodovia Transamazônica [Realidade,<br />

1971, p. 316]). Era vital a construção de tal imagem<br />

para legitimar a entrega da Amazônia ao grande capital<br />

privado, sob o argumento de que esse seria o caminho<br />

para “transformar o berço esplêndido num país<br />

desenvolvido” (Anúncio do Montepio Nacional dos<br />

Bancários – MNB [Realidade, 1971, p. 325] cf. Maurício<br />

TORRES e José ARBEX Jr., neste livro).<br />

O que hoje se determina como área de influência<br />

da BR-163 foi um paradigma desse processo. Só em<br />

1974 se decretou mais de 1,6 milhão de hectares de<br />

área protegida integralmente: o Parque Nacional da<br />

Amazônia e a Floresta Nacional do Tapajós7 . A localização<br />

dessas duas reservas indica a análise geopolítica<br />

que a precedeu:<br />

O PIN também suportou a implementação de uma<br />

extensa rede de estradas para facilitar a ocupação dos<br />

espaços considerados “vazios”. Neste processo de ocu-<br />

pação da fronteira amazônica, o traçado das rodovias<br />

Transamazônica e Santarém-Cuiabá apresentava uma<br />

importância estratégica fundamental para interconectar<br />

o país de norte a sul, de leste a oeste. É sugestivo<br />

que é precisamente neste ponto, onde estas duas rodovias<br />

interceptam-se, que a Flona Tapajós foi estabelecida.<br />

(IORIS, 2000, p. 4)<br />

Essas políticas ambientais, mescladas a interesses<br />

econômicos e estratégias de opressão popular, arrogam-se<br />

o direito de decidir pela maneira como as pessoas<br />

que há gerações habitam a região irão gerir o<br />

meio – muitas vezes, sustentável, graças às formas pelas<br />

quais é manejado por essas mesmas pessoas. Porém,<br />

as autoridades responsáveis bravateiam que, sem<br />

a “douta ingerência” urbana, essas populações degradariam,<br />

ao limite da extinção, o espaço do qual depende<br />

sua própria subsistência. Crêem ser necessário<br />

tolhê-las e regulamentá-las por não terem competência<br />

para gerir seu antigo chão. Tamanha prepotência<br />

parte de um modus operandi bastante antigo, que irracionaliza<br />

certos grupos e classes sociais: as populações<br />

são vistas como doentes, inaptas a responder por si e<br />

por seu meio. Nada de novo, deficientes mentais, mulheres,<br />

minorias étnicas, homossexuais, pobres etc.<br />

sempre foram vítimas desse tipo de argumentação<br />

para que se legitimasse a coação sobre tais grupos e o<br />

direito de sujeitá-los às restrições do dominador.<br />

Como dissemos, no caso das populações residentes<br />

em unidades de conservação, as medidas de regulamentação<br />

de suas vidas, despencadas após o decreto de<br />

criação da reserva ambiental, via de regra são conflitantes<br />

com seus modos de produção, sua cultura, e conflitantes<br />

até com suas próprias restringências ao uso dos

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