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político internacional que começava a mudar: na esteira<br />

da crise dos mísseis em 1962, Havana desenvolvia<br />

relações cada vez mais estreitas com a então União<br />

Soviética. A descoberta do esboço de guerrilha no<br />

Araguaia acirrou a paúra anticomunista e serviu de<br />

pretexto para afastar de vez qualquer proposta de reforma<br />

agrária.<br />

O discurso ideológico da “integração” e da “proteção<br />

contra o inimigo comunista” legitimava e camuflava<br />

a cópula obscena do grande capital com os planos<br />

governamentais de ocupação da Amazônia no período<br />

da ditadura militar pós-64. Como mostra o professor<br />

Ariovaldo Umbelino de Oliveira6 , a terra abriuse<br />

aos interesses dos grandes grupos econômicos. O<br />

álibi para o amparo estatal ao grande capital nacional<br />

e estrangeiro, além de usar a violência, muitas vezes<br />

ultrapassou os limites do ridículo: a Doutrina de Segurança<br />

Nacional e Desenvolvimento, nas estratégias<br />

para combate às ações do PCB e PC do B em certo ponto<br />

da Amazônia, classificava os indígenas e camponeses<br />

da região como “inimigos potenciais”, por julgálos<br />

suscetíveis à influência e conseqüente adesão ao<br />

“inimigo externo”, o comunismo internacional. Os<br />

golpistas, assim, “protegeram” a nação desses ameaçadores<br />

“inimigos potenciais” e o território ficou “seguro”<br />

nas mãos de algumas poucas multinacionais. Curiosamente,<br />

naquela específica região amazônica fica a<br />

maior reserva de ferro do planeta (Eldorado de Carajás)<br />

e foi onde a Sudam subsidiou muitos projetos<br />

agropecuários7 . Ronaldo Barata comenta a respeito:<br />

[...] Se vês a história do mundo inteiro com relação a<br />

uma política de reforma agrária, tu vais encontrar um<br />

segmento que sempre foi favorável e nunca fez obje-<br />

MAURÍCIO TORRES 273<br />

ções a essas mudanças. E esse segmento é o da indústria<br />

que sempre considerou que a riqueza gerada no<br />

campo seria consumidora de suas máquinas, insumos,<br />

equipamentos etc. Mas no Brasil, não. E por<br />

quê? Porque, com a política de incentivos fiscais, indústrias<br />

que nunca se vocacionaram para a atividade<br />

agrícola passaram a comprar terras. Se isso não bastasse,<br />

praticamente todo o sistema bancário brasileiro é<br />

dono de imensas áreas de terras, e que por isso passou<br />

também a ser refratário à adoção de qualquer política<br />

de reforma agrária. Contrariando todas as experiências<br />

mundiais! [...] Esses setores passaram a ser, também,<br />

grandes proprietários agrícolas. Isso está muito bem<br />

caracterizado na Amazônia, onde podemos ver o Bradesco<br />

com terras, o Bamerindus com terras, as grandes<br />

indústrias, os meios de comunicação, as empresas<br />

de TV, todos têm terras. 8<br />

Entre as décadas de 1960 e 1980, o Brasil assistiu<br />

à formação dos maiores latifúndios que a história<br />

da humanidade conheceu. O efeito colateral foi simultâneo:<br />

aceleração das tensões sociais, principalmente<br />

no Sul e no Nordeste, agravadas por outros fatores<br />

que contribuíram para o aumento do número<br />

de expropriados rurais e da concentração de terras.<br />

Um desses fatores foi a construção de represas. De<br />

um momento para outro, expulsou-se uma legião de<br />

pessoas de seus lugares. Só com a construção da usina<br />

hidrelétrica de Itaipu foram 10.000 famílias desalojadas<br />

de suas terras ao lado do rio Paraná. Além disso,<br />

na década de 1960, a agricultura experimentava “o<br />

período mais rápido e mais intenso de mecanização<br />

em toda a sua história” 9 , com sérias conseqüências<br />

para a agricultura familiar.

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