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304 AMAZÔNIA REVELADA<br />

nia tem como pano de fundo a influência de empresários<br />

e políticos locais, que são os verdadeiros donos<br />

de grandes fazendas em áreas dentro do parque. A reportagem<br />

apurou junto a uma fonte do Ibama que a<br />

não demarcação do parque interessa principalmente a<br />

grandes empresários e políticos do município. Mesmo<br />

assim, a demarcação foi barrada. 57<br />

JACAREACANGA – A grande faixa que se inicia<br />

após a Flona de Itaituba e se estende até as proximidades<br />

de Apuí prolonga o quadro de incertezas. Ali<br />

predominam os pequenos e médios especuladores de<br />

terras. Os preços ainda são baixos, em média, de 5 a<br />

18 reais por alqueire (2.400 m2 ), e isso, de certa forma,<br />

“democratiza” entre atores pouco capitalizados a<br />

ocupação de terras públicas. Emblemático é o caso<br />

de um senhor vindo do Espírito Santo58 , morador de<br />

Itaituba. Fazendo fretes e carretos durante 23 anos,<br />

conseguiu somar uma pequena economia: 6.000 reais.<br />

Há dois anos, com essa poupança, comprou 1.000<br />

hectares às margens da Transamazônica, próximo ao<br />

quilômetro 300. Desde então, segue o mesmo procedimento<br />

protocolar dos grandes grileiros de Castelo<br />

dos Sonhos ou Novo Progresso para “esquentar a terra”.<br />

E ainda mais preocupante: seu discurso afina-se<br />

na íntegra ao deles. Reforma agrária (exatamente o<br />

que o levou àquele lugar) ou a simples menção à regularização<br />

fundiária soam como ameaças a tudo o<br />

que ele conseguiu conquistar em 23 anos de trabalho.<br />

Ao sul do rio Aruri, indo até a divisa com Mato<br />

Grosso, região de “gerações” de grileiros mais antigas<br />

e que hoje passa por grande valorização em função<br />

dos rumores do asfaltamento, pessoas como esse senhor<br />

capixaba estão sendo, ou já foram, expulsas<br />

exatamente pelos seus “aliados” latifundiários que se<br />

beneficiam, para isso, justamente da falta da regularização<br />

fundiária.<br />

O preço ainda muito baixo das terras em Oriximiná,<br />

que chega a 5 reais por hectare, promove um<br />

movimento parecido com o de Jacareacanga. Acaba<br />

por ser uma opção aos assentados que vendem seus lotes<br />

para a expansão da soja em Santarém e Belterra.<br />

Esse é o resultado do que chamamos anteriormente<br />

de “lógica da fronteira”: a dinâmica da apropriação<br />

do alheio incorpora-se ao cotidiano.<br />

APUÍ – De Guarantã do Norte a Novo Progresso,<br />

ouve-se muito de um intenso fluxo de grilagem<br />

voltado para Apuí. Aliás, é voz corrente que há terras<br />

para serem “cortadas” em Apuí. Segundo vários entrevistados,<br />

de setembro a novembro de 2004, entre<br />

Guarantã do Norte e Novo Progresso, o poder municipal<br />

colabora com esse processo. Em vários escritórios<br />

que anunciam o serviço de regularização fundiária é<br />

perceptível o febril entusiasmo especialmente focado<br />

em duas regiões: Nova Aripuanã e Apuí, ambas no Estado<br />

do Amazonas.<br />

Algumas pessoas que se deslocaram da região<br />

de Castelo dos Sonhos para “cortar” terra em Apuí<br />

foram impedidas, pois as áreas que lhes vendiam estavam,<br />

na verdade, dentro de uma Unidade de Conservação<br />

do Estado do Amazonas. Porém, correm<br />

nos escritórios de regularização fundiária de Novo<br />

Progresso grandes negociatas de terras, com enormes<br />

áreas e cifras envolvidas. Transações profissionalizadas<br />

o suficiente para não caírem em enganos tão prosaicos.<br />

“Corretores” importantes já se haviam instalado<br />

na região.

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