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324 AMAZÔNIA REVELADA<br />

pouco mais de tempo. Impedidos de se dispersar, os<br />

organismos presos no fragmento passam a se acasalar<br />

entre si, entre indivíduos aparentados, ampliando assim<br />

a consangüinidade do grupo e reduzindo a variabilidade<br />

genética. Isso expõe a população a sérios riscos<br />

de extinção, fragilizando-a frente a mudanças ambientais,<br />

epidemias e doenças infecciosas (LAURANCE;<br />

BIERREGARD JR., 1997; LANDE, 1999). Para minimizar,<br />

em áreas protegidas, os efeitos da fragmentação, tais<br />

áreas necessitam: 1) tamanho e desenho adequado de<br />

forma a permitir a manutenção de populações em<br />

longo prazo sem risco de extinção ou perda de variabilidade<br />

genética; 2) situarem-se próximas a outras<br />

áreas protegidas de modo a possibilitar a manutenção<br />

de fluxo gênico entre áreas adjacentes.<br />

Vários métodos são propostos e utilizados para<br />

auxiliar o desenho de áreas de proteção a fim de que<br />

não sejam prejudicadas pelos efeitos da fragmentação<br />

(WILSON; WILLIS, 1975; International Union for the<br />

Conservation of Nature and Natural Resources, 1980;<br />

SHAFER, 1997). A biogeografia, por exemplo, estuda os<br />

efeitos da fragmentação de hábitat na biodiversidade, e<br />

métodos baseados em “biogeografia de ilhas”<br />

(MACARTHUR; WILSON, 1967) são vastamente utilizados<br />

para elaborar regras que auxiliam no desenho de áreas<br />

protegidas. Os métodos disponíveis determinam que a<br />

eficiência cresce na medida em que as áreas aumentam<br />

de tamanho, desenham-se mais próximas ao formato<br />

circular e localizam-se contiguamente a outras áreas.<br />

Para planejar áreas protegidas levando em consideração<br />

a representação biológica e a persistência evolutiva,<br />

necessita-se de profundo conhecimento sobre<br />

quais espécies habitam que partes da região, ou seja,<br />

sobre taxonomia, distribuição geográfica e os fatores<br />

determinantes da disposição espacial das espécies.<br />

Rude e parcial, o conhecimento sobre a Amazônia não<br />

é confiável para nortear as prioridades de escolha das<br />

áreas de preservação. Junta-se ainda o fato de as políticas<br />

ambientais para a Amazônia se pautarem por outro<br />

crivo: demografia e interesses econômicos são, na<br />

maioria das vezes, determinantes muito mais ativos do<br />

desenho espacial das áreas de preservação.<br />

O Parque Nacional da Amazônia, em Itaituba, PA,<br />

é um exemplo particularmente ilustrativo da submissão<br />

dos valores ambientais aos interesses econômicos do<br />

grande capital. Essa reserva orgulha-se de ser o primeiro<br />

parque nacional criado na Amazônia, mas se constrange<br />

com um curioso “dente” entrecortando suas formas<br />

geométricas (figura 1). Em 1985, quase onze anos<br />

após sua criação, um decreto publicado durante o mandato<br />

do então presidente João Figueiredo redefiniu os<br />

limites do Parque, excluindo inexplicavelmente do perímetro<br />

uma área rica em calcário, de aproximadamente<br />

6.000 hectares. Hoje, adjacente a essa área, está instalada<br />

uma fábrica de cimento do grupo João Santos,<br />

com licença para pesquisa mineral na área do “dente”.<br />

Casos como esse são absolutamente coerentes com o<br />

que Ariovaldo Umbelino de OLIVEIRA (1997, 1995 e neste<br />

livro) define como a dinâmica de controle da Amazônia<br />

calcada no monopólio da propriedade privada do<br />

solo e do monopólio sobre os recursos minerais do subsolo.<br />

Infelizmente, a conservação ambiental, ainda<br />

hoje, cede prioridade à instalação do grande capital.<br />

Se por um lado urge transformar históricas e arraigadas<br />

estruturas político-econômicas, por outro<br />

precisa-se de algo não menos demorado: informações<br />

aplicáveis ao planejamento em conservação. As proporções<br />

da Amazônia atrasam o compasso do intrin-

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