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amazonia%20revelada

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como resíduo do progresso, acabava por ser culturalmente – ou até factualmente –<br />

dizimado. Ora, como chamar de progresso o crescimento econômico de uma ínfima<br />

minoria em detrimento de toda uma massa de pobres? Progresso, avanço tecnológico,<br />

desenvolvimento não podem ser privilégio de classes. Essa discussão é desenvolvida em<br />

“‘Terra sem povo’, crime sem castigo”, onde José Arbex Jr. vai a fundo nas construções da<br />

Amazônia no imaginário do resto do país e do mundo e, assim, trabalha os mecanismos<br />

para a criação de estereótipos e estigmas. O autor desmistifica a exotização da Amazônia e<br />

como essa “colonização do imaginário” precedeu a colonização do território. Dentre as falácias<br />

saídas do ideário construído sobre a região, talvez a pior seja a concepção de que a<br />

Amazônia é um “vazio”, um “espaço sem gente”. Essa idéia já causou suficiente estrago<br />

quando, estrategicamente usada pela Operação Amazônia, legitimou o incentivo à<br />

“ocupação da Amazônia”, capítulo vergonhoso de entrega da região ao grande capital, e<br />

sedimentou a dinâmica da expropriação dos povos antigos da floresta que vemos, ainda<br />

hoje, em pleno vigor. Além disso, a classificação “terra sem gente” é investida de uma<br />

carga xenófoba: nega o status de “gente” a mais de 170 povos indígenas e a alguns milhões<br />

de antigos habitantes.<br />

Populações indígenas. Não há como negar que a elas coube o grande ônus do processo<br />

de abertura de rodovias na Amazônia. Bernadete Castro de Oliveira analisa em “Todo dia é<br />

dia de índio: terra indígena e sustentabilidade” essas populações contextualizando suas<br />

peculiaridades em relação à lei, à terra e ao meio ambiente.<br />

Pauta freqüente na mídia, notícias sobre a rodovia Santarém-Cuiabá sempre ressaltam<br />

o estado de abandono que é ilustrado com caminhões carregados de madeira, gado ou soja<br />

enterrados na lama. Não é esse o grande abandono que Maurício Torres encontrou ao<br />

longo da BR-163. Em “Fronteira, um eco sem fim” vê-se que muito mais cruel do que o<br />

alardeado prejuízo para a produção é a situação que obriga uma mãe a ver os filhos de<br />

menos de 10 anos serem contratados por grileiros vizinhos. E essa realidade fala pouco da<br />

trafegabilidade da rodovia, mas, antes, da expansão de um modo de vida em que o poder<br />

econômico dominante se revela com suas crueldades potencializadas na mais absoluta<br />

ilegalidade.<br />

Não raro o Estado justifica o abandono a que submete esse povo com o argumento do<br />

isolamento a que está sujeito em decorrência das condições da estrada. Romulo Orrico

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