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286 AMAZÔNIA REVELADA<br />

mas” à delegacia de polícia, que, sem mais, oficializa<br />

a prisão do “invasor”.<br />

A título de exemplo, cabe lembrar o registro,<br />

nessa mesma Comissão de Direitos Humanos da Câmara,<br />

do episódio acontecido em 21 de setembro de<br />

2001, quando foram presos dois empregados da fazenda<br />

Reunidas, de propriedade de Ângelo Calmon de Sá<br />

(ex-dono do Banco Econômico). Eles transportavam<br />

armamentos pesados e admitiram que pertenciam à<br />

fazenda, onde havia mais armas. Na delegacia apresentaram<br />

o cartão do delegado-geral da Polícia Civil<br />

do Estado do Pará, identificando-o como “o homem<br />

que vai nos ajudar” 41 . Os dois foram soltos no mesmo<br />

dia e não há confirmação de que o flagrante tenha<br />

sido lavrado.<br />

É notável como a expansão de uma exacerbada<br />

lógica de mercado para o campo e a modernização das<br />

fazendas se completam na absoluta ausência de ética.<br />

A mais avançada tecnologia agropecuária convive e se<br />

ancora, sem constrangimento, no desmando da violência<br />

e no trabalho escravo. Para José de Souza Martins,<br />

a chegada do capitalismo nessa região sem lei<br />

teve efeitos desastrosos, não imaginados pela maioria<br />

dos teóricos do capitalismo:<br />

Na Amazônia, o capitalismo em expansão se propôs<br />

negando a condição humana, realizando o extremo<br />

da coisificação da pessoa que lhe é própria. A ponto<br />

de que as novas empresas, não raro multinacionais<br />

afamadas, grandes bancos, grandes indústrias, grandes<br />

conglomerados comerciais, não tiveram qualquer<br />

problema em utilizar em suas fazendas, amplamente,<br />

a peonagem, a escravidão por dívida, nos demorados<br />

e penosos trabalhos de derrubar a floresta, limpar o<br />

terreno e semear o pasto. Estima-se que nos anos 70<br />

o número de peões escravizados por essas empresas<br />

modernas tenha chegado a 400.000 pessoas. A suposição<br />

corrente nas concepções evolucionistas do marxismo,<br />

de que o desenvolvimento das forças produtivas<br />

acarreta o desenvolvimento das relações de produção<br />

e a disseminação do trabalho assalariado, foi ali<br />

completamente negada na fase de implantação das fazendas.<br />

O tráfico de pessoas estava por toda parte, até<br />

mesmo os traficantes fornecendo recibo dos peões<br />

vendidos aos gerentes das fazendas, como se se tratasse<br />

de uma atividade lícita. 42<br />

A FALA DO MEDO E O SILÊNCIO DO ESTADO<br />

As frentes de expansão na Amazônia marcaram-se pela<br />

violência, abandono, ausência de órgãos e instituições<br />

reguladoras, e até pela reinvenção do trabalho escravo.<br />

O esdrúxulo timbre da colonização ainda perdura.<br />

Hoje, a mais ouvida reivindicação da população é “a<br />

presença do Estado”. Porém, o que se entende por<br />

“Estado” e o que se quer presente é o poder federal.<br />

Nem as representações estaduais, muito menos as municipais,<br />

são encaradas como “Estado”. Ao contrário.<br />

Geralmente são tidas como ameaça à população que<br />

reclama por um poder mediador e imparcial a protegê-la<br />

do governo local.<br />

Um órgão que prima em mostrar a seriedade<br />

com que realiza seu trabalho é a base operativa do Ibama<br />

de Itaituba. A lisura do trabalho de jovens como<br />

José Karlson Correia da Silva, Lívia Martins e Elza Silva<br />

marcou a população. Os habitantes vincularam diretamente<br />

esse posto à efetiva – e desejada – “presença<br />

do Estado”. A carência de entidades isentas tornou a

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