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354 AMAZÔNIA REVELADA<br />

ca com uma reserva de calcário e, assim, garantir o investimento<br />

da empresa na região.<br />

Curiosamente, não encontramos nenhum decreto<br />

que concedesse qualquer direito sobre a área para o grupo<br />

e, no Cartório de Registro de Imóveis competente,<br />

não havia nenhuma matrícula que conferisse a propriedade<br />

da terra à empresa. A gerente não prima pela lógica<br />

ao dizer que o Grupo tem “escrituras públicas” da<br />

terra, mas que não é permitido o acesso a elas, pois as<br />

escrituras “públicas”, segundo ela, são sigilosas. Portanto,<br />

com a mentira de que a empresa é proprietária daquelas<br />

terras, relegam-se aqueles moradores a uma situação<br />

de medo, insegurança e privação de direitos.<br />

CABOCLO, UM ESTRANGEIRO NA AMAZÔNIA<br />

Ao timbre dos clarins e do autoritarismo da ditadura<br />

militar, determinou-se o mapa das grandes unidades<br />

de conservação. A criação por decreto do Parque Nacional<br />

da Amazônia deflagrou uma verdadeira barbárie,<br />

que se prolongaria até meados da década de 1980<br />

e da qual foram vítimas as populações que havia gerações<br />

habitavam a área. O plano de manejo do Parque,<br />

publicado em 1979, ilustra o imaginário de então em<br />

relação às populações tradicionais e aos colonos que<br />

chegavam aos projetos de assentamento da região.<br />

Vale lembrar: o projeto de instalação de camponeses<br />

na terra (embrião da criação do Parque) é visto no plano<br />

de manejo como um incômodo à própria reserva.<br />

Aquelas populações são ostensivamente encaradas<br />

como uma ameaça à unidade de conservação:<br />

A área reservada pelo Incra para colonização ao longo<br />

da rodovia Transamazônica representa uma grave<br />

ameaça para a possibilidade de o Parque nacional<br />

funcionar dentro da concepção de uma efetiva unidade<br />

de conservação. A ocorrência de uma área agrícola<br />

habitada dentro do Parque conflita com seus objetivos<br />

essenciais e acarretará inúmeras implicações. A<br />

situação torna extremamente difícil o controle da<br />

caça, da exploração e extração de produtos (borracha,<br />

castanha etc.) das áreas adjacentes ao Parque. Os animais<br />

domésticos, em particular, os cães, da área colonizada,<br />

terão facilitado o seu acesso ao Parque nacional,<br />

colocando em sério risco a segurança e mesmo a<br />

sobrevivência da fauna selvagem lá existente. Prejuízos<br />

ecológicos resultarão da erosão de terras cultivadas.<br />

Há, ainda, um perigo potencial para a expansão<br />

do fogo usado nas técnicas de exploração à base de<br />

queimada e corte. [...] Finalmente, do ponto de vista<br />

dos próprios colonos, os solos inférteis e a íngreme<br />

topografia da área fornecem péssimas condições para<br />

atividades agrícolas, as quais não serão passíveis de sucesso<br />

a longo prazo. (IBDF, 1979, p. 28)<br />

A aversão a esse pequeno camponês não é dissimulada<br />

e chega a lançar mão de um esdrúxulo argumento<br />

estético. Os assentados são, ainda por cima, feios:<br />

Além disso, uma grande área de colonização ao longo<br />

da rodovia, que é o principal meio de acesso ao Parque<br />

nacional, reduzirá significativamente o seu valor, como<br />

um recurso estético de significância nacional. (Idem)<br />

Essa pérola vai ao encontro da concepção norteamericana<br />

de unidades de conservação como algo voltado<br />

ao entretenimento do homem urbano. Mais adiante,<br />

retomaremos essa discussão.

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