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202 AMAZÔNIA REVELADA<br />

Mas lá se vão quinhentos anos e isso ainda está<br />

por acontecer e, se depender dos índios, vai continuar<br />

assim por mais quinhentos, pois o que assistimos hoje<br />

é a um aumento da população indígena no Brasil; e a<br />

luta por seus territórios e direitos crescer dia a dia.<br />

É claro que o contato com o branco leva novos<br />

elementos culturais às aldeias, que são reelaborados e<br />

incorporados. Apesar do genocídio que a colonização<br />

representou para os povos indígenas, a vida de<br />

vários dos grupos segue com a mesma organização<br />

social básica.<br />

São sociedades sem Estado, baseadas na chefia<br />

indígena, regulada por princípios que diferem do<br />

mundo branco, e cuja hierarquia segue as regras estabelecidas<br />

pela tradição do parentesco, do consenso, da<br />

coragem e outros requisitos que estruturam uma forma<br />

de poder diversa da sociedade industrial, de conhecimento<br />

técnico prepotente e baseada no princípio<br />

da acumulação.<br />

A posse material dos bens, a começar pelo alimento,<br />

obedece regras que regulam a distribuição visando<br />

a sobrevivência do grupo: quando acumulados,<br />

entram num circuito de distribuição que inclui<br />

o parentesco, e são consumidos em rituais de forma<br />

coletiva.<br />

A terra como posse coletiva do grupo, dos clãs,<br />

tem seu uso definido de acordo com as regras de parentesco,<br />

determinando quem entra na aldeia, quem<br />

sai, constituindo sempre novos núcleos, novas aldeias,<br />

uma estratégia interna e contínua de expansão territorial.<br />

O uso da terra e de seus recursos não fica restrito<br />

às aldeias, mas se amplia na busca da caça, da coleta<br />

etc., seguindo trilhas e caminhos que indicam a concepção<br />

de um território móvel.<br />

Isso cria conflitos dentro da sociedade brasileira,<br />

pois o modo de produção e consumo das sociedades<br />

indígenas se torna uma ameaça ao estatuto da propriedade<br />

privada da terra, delimitada e cercada. São<br />

dois mundos, onde as concepções sobre o desenvolvimento<br />

e o progresso não são as mesmas.<br />

O processo de desenvolvimento econômico do<br />

Brasil foi exterminando a população indígena e cercando<br />

suas terras, transformando-as em “ilhas” rodeadas<br />

de empreendimentos agropecuários como no caso<br />

dos Xavante, Pareci e Nambiquara em Mato Grosso;<br />

empreendimentos madeireiros e mineradores, como<br />

no caso dos Waiãpi/AP; pela expansão urbana, com os<br />

M’byá Guarani, na Grande São Paulo. Neste caso, as<br />

represas Billings e Guarapiranga, as ferrovias, as rodovias<br />

Anchieta e Imigrantes, o Parque Estadual da Serra<br />

do Mar e os loteamentos clandestinos são alguns<br />

dos elementos que cercam os territórios indígenas das<br />

comunidades da Barragem e do Krukutu e secionam<br />

as trilhas por elas utilizadas.<br />

O cerco das terras indígenas é um processo tão<br />

violento como as missões e aldeamentos, pois deteriora<br />

a cultura da mesma forma: restringe as áreas de<br />

caça e coleta, dificulta a livre circulação dos índios,<br />

altera e degrada o meio ambiente no entorno das aldeias.<br />

Isso reflete nas atividades de sobrevivência, diminuindo<br />

a população ou espécies animais e vegetais,<br />

contamina rios e córregos, causando degradação ambiental<br />

e cultural.<br />

Diminuindo as alternativas de obtenção de alimento,<br />

portanto alterando a vida material do grupo e<br />

conseqüentemente suas práticas sociais, em muitas aldeias<br />

os índios são “forçados” a trabalhar, criando<br />

gado ou plantando para os fazendeiros vizinhos no re-

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