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174 AMAZÔNIA REVELADA<br />
Do governo Sarney até o governo FHC, o país pa-<br />
gou US$ 250 bilhões de juros da dívida externa. Soman-<br />
do as amortizações realizadas entre 1985 e 2002 (US$<br />
385,7 bilhões), chega-se a um total de US$ 635,7 bilhões<br />
pagos. Ou seja, em menos de vinte anos de neoliberalismo<br />
(1985 a 2002), o Brasil pagou uma quantia em dólares<br />
equivalente a várias vezes o total da dívida.<br />
É nessa teia que entram as exportações do agronegócio.<br />
Entre 1985 e 2002, as exportações geraram<br />
um superávit comercial de US$ 143,4 bilhões para um<br />
déficit, entre 1995 e 2000, de US$ 24,3 bilhões, o que<br />
dá um saldo líquido de US$ 119,2 bilhões. Assim, o<br />
saldo das exportações brasileiras não chegou, no período,<br />
à metade do montante pago como juros da dívida<br />
externa, por isso a dívida cresceu, embora o que<br />
foi pago desse para quitá-la várias vezes. É o cachorro<br />
correndo atrás do próprio rabo, ou seja, quanto<br />
mais se exportou, mais a dívida cresceu e mais se pagou<br />
de juros.<br />
A quem interessa essa lógica perversa é a pergunta<br />
que se impõe. A resposta é: ao setor financeiro<br />
internacional e nacional que se beneficiam com os juros<br />
e aos grupos nacionais e internacionais que aumentam<br />
seus lucros com o crescimento das exportações<br />
e das importações.<br />
Durante o primeiro ano do governo Lula, a balança<br />
comercial brasileira fechou 2003 com US$ 73 bilhões<br />
em exportações. As importações alcançaram US$<br />
48,2 bilhões, permitindo, assim, um superávit comercial<br />
de US$ 24,8 bilhões. As exportações cresceram<br />
21,1% em relação a 2002, com aumento absoluto de<br />
US$ 12,7 bilhões. Entre o total exportado, os produtos<br />
básicos ficaram com 33,2%, os semimanufaturados<br />
com 15,6% e os manufaturados com 54,3%.<br />
Por grupos de produtos, o material de transporte<br />
(veículos de carga, automóveis, autopeças, pneumáticos<br />
e motores) foi o que gerou a maior receita de exportação,<br />
com vendas de US$ 10,6 bilhões, correspondendo<br />
a 14,6% das exportações. O segundo lugar, com<br />
11,1% do total, ficou com a soja, com exportações de<br />
US$ 8,1 bilhões; o terceiro lugar ficou com o setor metalúrgico,<br />
com US$ 7,3 bilhões, 10% de participação.<br />
Lula recebeu o país com uma dívida externa de<br />
US$ 227,6 bilhões e até o fim de 2003 tinha de amortizar<br />
34,31 bilhões e pagar 13 bilhões de juros. Segundo<br />
o Banco Central, a dívida externa no final de 2003<br />
chegou a US$ 219,9 bilhões. Em reais, a dívida pública<br />
federal total, que inclui o endividamento externo,<br />
passou de R$ 826,9 bilhões em dezembro de 2002 para<br />
965,8 bilhões no final de 2003, um crescimento de<br />
16,8%. A quantia de juros paga também cresceu e chegou<br />
a 145,2 bilhões. Segundo o Ministério da Fazenda,<br />
o total de pagamentos foi de R$ 332,3 bilhões, sendo<br />
293,2 bilhões da dívida interna e 39,1 bilhões (US$ 13<br />
bilhões) da externa. Dessa forma, como o total da dívida<br />
no final de 2003 cresceu, foi necessário aumentar<br />
mais a dívida para pagar o que venceu. Resumindo, o<br />
país devia, em dezembro de 2002, R$ 826,9 bilhões,<br />
que, somados à quantia paga em 2003, de R$ 332,3 bilhões,<br />
dá R$ 1 trilhão e 159,2 bilhões. Logo, o governo<br />
Lula pagou em torno de 40% da dívida e, mesmo assim,<br />
em janeiro de 2004, ela cresceu 21% nesses dois<br />
anos (Ministério da Fazenda).<br />
O pagamento efetuado até o final de 2003 foi<br />
30% maior do que em 2002; e o percentual do crescimento<br />
da dívida, 5% maior. O relatório do Banco<br />
Central sobre a dívida pública divulgado em<br />
14/1/2004 apenas enfatizou a mudança do seu perfil,