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ecursos do meio. Essas populações manejam seu espaço<br />

segundo restrições culturais, calcadas em um modo<br />

próprio de apreensão da realidade. Geralmente, os limites<br />

para o uso de recursos impostos aos residentes<br />

em unidades de conservação vão de encontro às normas<br />

de conduta, restrições e costumes construídos e transmitidos<br />

ao longo dos anos. Dificilmente essas normativas<br />

estabelecidas de “cima para baixo” terão legitimidade<br />

entre o grupo. Ainda mais, a imposição de limites<br />

às suas atividades socioeconômicas cerceia uma tecnologia<br />

e um conhecimento valiosos sobre o ambiente e<br />

as relações com seus diversos componentes.<br />

Vale notar: restringir o uso dos recursos do meio<br />

implica, indefectivelmente, diminuição da interação<br />

do homem com esse espaço. Meio ambiente e homem.<br />

Uma triste cadeia se lhes anuncia: menor interação,<br />

menor conhecimento; maior distância, menor<br />

troca; sem consortismo, sem sustentante. Duas perdas,<br />

um ambiente se degrada; um modo de vida jaz.<br />

Um ambiente, muitas vezes, irrecuperável; uma cultura<br />

que representa eficaz ferramenta em conservação, a<br />

mais efetiva reação ao meio de vida urbano-industrial,<br />

esse, sim, devastador de fato.<br />

Com constrangedora cotidianidade, isso se repete,<br />

reproduzindo um modelo que norteia desde antigas<br />

unidades de conservação até projetos contemporâneos.<br />

Novamente, colhemos o exemplo no trabalho<br />

de Edviges IORIS:<br />

Não obstante a importância da mata para a unidade<br />

produtiva familiar, para os caboclos da Flona Tapajós,<br />

a criação da reserva afetou particularmente sua relação<br />

com as áreas de mata. […] desde a criação da Flona,<br />

as atividades de caça e de extração de outros re-<br />

MAURÍCIO TORRES E WILSEA FIGUEIREDO 385<br />

cursos florestais foram severamente limitadas por<br />

conta dos regulamentos da unidade de conservação.<br />

Quando eu estava em campo, a atividade de caça era<br />

praticamente um tema tabu para ser comentado, pois<br />

as pessoas temiam repressões por parte de direção da<br />

Flona. Além disso, eles me mostraram diversas áreas<br />

no interior da mata que eles disseram que costumavam<br />

trabalhar, mas que haviam parado por proibição<br />

da direção da Flona. Embora estes aspectos ainda demandem<br />

mais investigações, é importante ressaltar<br />

que, em qualquer circunstância, o conhecimento sobre<br />

estas comunidades passa necessariamente pela<br />

compreensão da sua relação com a Flona Tapajós,<br />

cuja criação e regulamentação alterou profundamente<br />

suas tradicionais formas de organização social e<br />

manejo dos recursos naturais. É, principalmente, no<br />

embate entre suas diferentes formas de entendimento<br />

sobre os recursos naturais que a relação entre a Flona<br />

Tapajós e as comunidades que lá se encontram deve<br />

ser entendida […]. (Ibid, p. 10)<br />

Soma-se à discussão ambiental uma questão que<br />

vai além da justiça social e remete, antes, ao respeito<br />

aos direitos do homem em um dilema essencialmente<br />

ético. Porém, em detrimento de todo esse debate, vários<br />

– e bem financiados – ambientalistas entendem<br />

seus próprios valores e seu modo de vida urbano<br />

como uma espécie de cume da evolução cultural, para<br />

o qual convergiriam, invariavelmente, todas as mais<br />

diversas formas de desenvolvimento socioeconômico.<br />

Ao acreditar-se postado no vértice apical das transformações<br />

sociais, esse ambientalista entende a dissolução,<br />

em sua própria imagem, de qualquer diferente<br />

traço do “outro”, apenas como uma questão de tem-

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